28 de jul. de 2007

Atlas Américas, curadoria de Paulo Herkenhoff

On the Edge (2005) Trabalho de Miguel Angel Rios no Flamengo (Oi Futuro - Rio de Janeiro).
Duas telas exibem peões pretos e brancos que além de movimentos e caminhos de delicada beleza se apresentam como metáfora dos embates e ocupações autogeradas e aleatórias no mapeamento pelas artes que o curador Paulo Herkenhoff faz dos territórios e tensões das Américas neste início de século XXI.



Returning a Sound (2004)Brilhante performace de Jennifer Allora e Guillermo Calzadilla, em que os artistas percorrem diversas estradas com uma moto equipada com um trompete no cano de descarga, com placa de Porto Rico e filmado em Vieques, ilha portoriquenha utilizada para testes de bombas.


A proposta de Herkenhoff me parece absolutamente pertinente no que diz respeito à possibilidade de o vídeo fazer esse papel de mapeamento de territórios instáveis e atravessados por uma dimensão que vai do global ao íntimo.

O vídeo é certamente um instrumento de configurações espaciais, apresentação e perturbação do sensível e, nesse sentido, ele é eminentemente político - não como essência mas como possibilidade. Nesse sentido me distancio de Herkenhoff quando ele afirma na apresentação da exposição que "O próprio vídeo é linguagem política".

O vídeo e os dispositivos a ele ligados - formas de produção, exibição e circulação - constituem o que de mais novo aconteceu no universo das imagens no período que Herkenhoff privilegiou. Nesse sentido o papel do curador é decisivo e extremamente difícil. O melhor da produção não necessariamente circula por museus ou festivais e o interesse pelo universo micropolítico requer uma atenção aos processos que se desinteressam pelos sistemas das artes.

Pequenos problemas de montagem prejudicam algumas obras na exposição.
Nos trabalhos de Fatimah Tuggar e de Javier Tellez (interessante forma de apresentar um lugar qualquer da América Latina - no caso a Venezuela - com o símbolo da cidade, um leão, causa forte estranhamento estético com a cidade mesmo) os sons se confundem e se somam sem razão; o trabalho de Katie van Scherpenberg é fundamentalmente uma performance sobre cores e pintura, com forte viez político também, mas é apresentado no meio de muita luz e uma projeção lavada, impossibilitando uma aproximação maior com a obra; o vídeo de José Alejandro Respetro sofre com uma faixa de luz que o atravessa vinda de uma lâmpada fora da sala; a instalação de Alan Michelson, Tworow II é prejudicado pelo desnível que existe entre as telas.

Discordo ainda da frequente opção do Oi Futuro em exibir vídeos em forma de pinturas que obrigam o espectador a ficar em pé com o headphone durante toda a duração dos trabalhos. Nesse sentido, a opção do ZKM, na Alemanha, por exemplo, me parece bastante mais cômoda e adequada para vídeos as vezes longos; construir uma sala com diversos monitores com cadeiras móveis ou bancos para cada trabalho.

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