1 de set. de 2007

Dispositivo e encontro com Ricardo Basbaum no Parque Lage

Diversos posts sobre o trabalho "Você quer participar de uma experiência artística?" apresentado na Documental de Kassel por Ricardo Basbaum acabaram se tornando um artigo mais longo que publicamos na Cinética.

Essa semana, Basbaum fez uma apresentação de seu trabalho no Parque Lage e falou algo que merece um novo comentário e faz parte também de uma reconfiguração que tenho feito da noção de dispositivo, de obra-dispositivo ou filme-dispositivo.

Ricardo diz assim: "Esse trabalho pode existir daqui a 150 anos, quando eu não estiver mais aqui e o objetos continuarem a circular e a documentação sobre essa circulação continuar a ser feita."

Esta percepção parte da idéia de que o dispositivo inicial absorve a totalidade do trabalho. Ou seja, trata-se de um trabalho processual em que a ação - proposição do artista - está no estabelecimento das regras e formas que disparam o processo e que depois ele pode se ausentar.

Pois é exatamente isso que Ricardo Basbaum não faz, felizmente. A palestra no parque Lage - ou em Kassel - é parte importante do trabalho. Nos últimos anos esse projeto ganhou elementos e acontecimentos que não subvertem o o dispositivo inicial mas que o mantém vivo, com o movimento necessário para que ele continue potente.

A montagem de kassel é um exemplo disso. Ali o artista inventou uma arquitetura para apresentar o projeto, fabricou 20 novos objetos, instalou duas câmeras de segurança no interior desta arquitetura em que os espectadores podia se ver, etc. Pequenos elementos transformam constantemente o projeto, impossibilitando a ausência do artista.

O dispositivo lida com limites - as regras que estabelecem o ponto de partida: a forma do objeto, um mês na casa da pessoa ou grupo, a documentação , etc - e contingência - todo acaso que surge à partir desses limites.

Se nos detemos nas regras que fundam uma determinada obra podemos perceber o dispositivo “iniciando” a possibilidade da obra mas estaremos distantes ainda dos modos desta metaestabilidade aparecer nas intereção, escrituras e operações internas à obra.

O dispositivo, pensado como uma regra para que a obra aconteça, uma "prisão" temporal e espacial, não constitui em si sua dimensão metaestável, não aparece como garantia para um processo de interação perpassada pelo acaso e descontrole por um lado e pela escritura, presença múltipla e subjetiva que constitui a obra, por outro.

Um trabalho como o de Basbaum, felizmente, não está dado uma vez que o dispositivo é inventado, são pequenos movimentos do artista no interior do dispositivo que ele e a obra habitam que permite a continuidade de sua força.


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