3 de mai. de 2008

A favorita - nova novela das 8

Quem escreve uma novela da 8 na Globo não é uma besta, pelo contrário. Não é necessário indicar aqui o que signifca isso em termos de exposição, salário, desafio, etc.
Lugar invejável por vários motivos.

Na entrevista por e-mail que o João Emanuel Carneiro concede à Folha de hoje ele começa dizendo: pretendo discutir o julgamento que fazemos das pessoas; ele diz que tem tido dúvidas sobre as pessoas que se aproximam dele, sobre os políticos etc.
Sério?
É isso?
Será que ele não pode se levar a sério? Será que não pode elaborar um pouco mais?

Cada vez que vejo um desses personagens da TV em uma entrevista ou escrevendo algo tenho a sensação que estão de brincadeira com o leitor. Como se não pudessem expressar suas reais intenções, como se não pudessem elaborar sobre o que fazem para o castelo não cair.

Fazer uma novela é muito complexo, exige um talento enorme. O que certamente não é garantia de nada.

Uma novela deve ser julgada assim; liga-se a TV na Globo e se assiste a novela por um minuto e quarenta e três segundos ininterruptos. Se o castelo se mantiver de pé a novela é boa. A possibilidade disso acontecer é praticamente zero.

Julgar uma novela pelo ibope, pela mobilização popular ou pela lembrança de determinado personagem é fácil. Todas as novelas da Globo acabam sendo razoavelmente bem avaliadas. O talento acaba sendo evidente: o talento de manter uma novela no ar, com 33 personagens, interessando o público por tanto tempo e discutindo assuntos como: "até onde as pessoas são capazes de ir sem trairem seus princípios" (Carneiro).

Detesto o tom irônico que esse comentário assume. Assim como gostaria de participar mais do debate nacional que as novelas mobilizam. Sempre me sinto moralista e elitista quando não compartilho os desdobramentos finais de um personagem da novela das 8.
O problema são os 103 segundos. Não consigo nunca suportar os clichês, a falta de cuidado, a pressa, a luminosidade da imagem, o moralismo, a função social, a feiura, a maquiagem, as atuações, o uso da música, os cenários e o tom de quem não pode olhar para o que está fazendo para não abandonar aquilo tudo.

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