1 de set. de 2007

Renda Mínima Universal (RMU) e Capitalismo Cognitivo





O cientista político Giuseppe Cocco defende na entrevista com Ana Paula Conde a necessidade de uma renda universal.

Abaixo algumas observações sobre a questão, várias delas presentes no excelente livro de André Gorz, L'immateriel

O capitalismo está ligado à miséria também e por isso é necessário ações anti-capitalistas

Destruir o capitalismo é ação inoperante e frequentemente violenta e pior sem ele.

O anti-capitalismo é uma ação da sociedade - frequentemente encabeçada pelo estado - no interior do capitalismo.

A falta de garantia de uma renda suficiente é o poder do capital.

A renda universal garante a liberdade para um trabalho imaterial - cuidados com o outro, produção artística, de softwares livres, doméstico, de ensino, de política, etc - terá uma gratificação material separada do capitalismo e do trabalho dependente.

A renda universal marca a importância das atividades não assalariadas nem dependentes. Desemprego não é igual a inatividade ou inutilidade. Para o capitalismo ele é garantia da possibilidade de explorar muito. A RMU garante um poder mínimo de negociação no campo do trabalho assalariado.

O trabalho imaterial, a riqueza social do líder comunitário, da mãe de família, da professora da creche da comunidade, do programador de softwares etc, não é mensurável e pode ser igualmente paga, criando um novo paradigma para o trabalho e para a inserção social.

A mão de obra não é mais necessária para a produção de valor, mas a produção de valor, feita por poucos tem total condições de sustentar a produção de valores simbólicos, afetivos e não transformáveis em dinheiro.

"A renda universal nos libera de uma falsa idéia de um pleno emprego para a realidade do pleno emprego da vida" Laurent Guilloteau.

A renda mínima garantida visa liberar as vidas para atividades mais ricas e de maior valor social do que as que hoje o capitalismo propõe a uma boa parte da população.

Porque nas ruas do Brasil ou do México há o mesmo número de pessoas vendendo produtos chineses e produtos com açucar que pessoas indo de um lugar a outro.

A RMU só é possível porque o capitalismo se transformou. Se no fordismo a principais matérias primas eram raras - metais, força física, energias - no capitalismo cognitivo, a principal matéria prima é abundante e o seu consumo não há extingue, ao contrário, aumenta sua quantidade e potência - informação, criação, invenções subjetivas, de maneira ampla; o conhecimento.

Inventar a vida não pode ser a mesma coisa que inventar uma empregabilidade, como vemos hoje nos jovens de 18/20 anos.

Porque fora do mercado se produz valores mais importantes para a vida que dentro dele.

A RMU é um revolução dentro do capitalismo porque hoje o capitalismo é assim. Ela deve ser incondicional. Não há poder que tenha condição de avaliar o que é produção de valor social o que não é.

É importante ensinar a pescar, dizem. Uma bela imagem para um mundo sem rios e sem pesca. Ensinar a pescar hoje não pode ser ensinar a servir o capital, mas a inventar uma vida de valor comum.

A RMU é a maneira de levar a fundo as transformações do capitalismo contemporâneo não permitido que ele se apodere da informação e do conhecimento universalisado. O discurso contra a pirataria e a favor do direito autoral é paradigmático desta tentativa capitalismo se apropriar do que não mais lhe pertence, do que é comum.

O fundamental da RMU não é desvalorizar o trabalho, mas valorizar o trabalho que não cabe dentro das estruturas capitalistas e liberar o indivíduo da obrigação de aceitar qualquer trabalho para sobreviver.

Renda Universal, por Philippe Van Parijs - com exemplos, histórico e experiências




4 comentários:

paoleb disse...

que bom isso. me faz pensar no txt do p.r. sarkar "capitalismo em três planos" um tântrico escrevendo uma teoria econômica. é mt bom. adorei tua familia linda ontem.

Migliorin disse...

Oi Paula, Não achei o texto na net. se tiveres me mande por favor. Achei ótimo o link que v. colocou lá no post sobre o Tropa de Elite.
O texto do Luis Eduardo Soares é legal né? Ele não cai na mesma armadilha que o diretor, apesar de estar tão dentro do projeto..

Sobre a Renda Universal, é curioso que o assunto esteja tão presente. O livro do Gorz é de 2003, o artigo do Negri e Cocco é do ano passado e em 2002, o Suplicy escreveu “Renda de Cidadania: A saída é pela porta”

Acho que as características do capitalismo nunca forma tão favoráveis à introdução de um RMU, ao mesmo tempo o governo Lula não para de ampliar as "bolsa". O governo faz mas não precisa explicitar, é bem sacado.

Renata Ferraz disse...

Muito bom este texto, essas idéias! Oxigenou minha mente para começar a semana!! Vc já ouviu falar do termo 'décroissance' ? Aí se encontra um caminho!! http://fr.wikipedia.org/wiki/D%C3%A9croissance_soutenable
Abs, Renata

Migliorin disse...

Oi Renata,
Obrigado, são idéias que estão por ai , muito bem trabalhadas pelo André Gorz, Guissepe Cocco, Suplicy e outros.

Passei agora por uma monografia de final de curso de economia sobre o tema: http://64.233.169.104/search?q=cache:OVZArUApckIJ:rendabasica.wikidot.com/local--files/textos/PROGRAMA%2520GERAL%2520DE%2520RENDA%2520M%C3%8DNIMA%2520-%2520UMA%2520AVALIA%C3%87%C3%83O%2520DOS%2520PROJETOS%2520DO%2520SENADOR%2520SUPLICY.pdf+renda+universal+Suplicy&hl=en&ct=clnk&cd=5&gl=br&lr=lang_pt&client=firefox-a

um abraço
Cezar