23 de jun. de 2013

os jovens e os pobres

Minha geração possui a memória das diretas já e do impeachment do Collor como grandes movimentos populares em que participamos, os atuais acontecimentos trazem uma marca singular: não somos mais os protagonistas.
Claro, vamos às manifestações, discutimos com amigos, organizamos encontros nas universidades, podemos ter um papel ainda importante, mas não somos os protagonistas.

Talvez esse “outro lugar” configure uma das dificuldades de pensarmos o que acontece. Se colocarmos nos jovens protagonistas - muitos deles pobres - as mesmas perspectivas que valeram para o nosso engajamento, não entenderemos nada.

Assim, o vermelho e a bandeira brasileira, por exemplo, ganharam outros sentidos. Não posso abandonar o sentido que esses símbolos tiveram para nós, mas não posso julgar a partir de uma perspectiva reacionária, de quem só vê esquerda quando tudo está vermelho, ou só vê lutas legítimas feitas por iguais.

A critica à forma da copa organizar a cidade, o passe livre, a rejeição do conservadorismo evangélico representado pelo Feliciano, foram bandeiras fortes nas manifestações e essa bandeiras são agregadoras de jovens que não necessariamente se identificam com um projeto tradicional de esquerda.

Com diversas bandeiras, estão à beira dos estádios/bunkers. Isso diz muito.

Pode até ser que os milhões de jovens que estão nas manifestações não nos digam exatamente porque estão ocupando as ruas e enfrentando a polícia, mas certamente eles sabem/sentem.

Um comentário:

Silvia da Costa disse...

Oi Cezar,

Eu concordo muito com você. Nós não somos mais os protagonistas, mas temos uma função estratégica como coadjuvantes.

Desde ontem, sinto que há uma disputa ideológica por esses jovens. Frases de intolerância com símbolos de esquerda, alguns fora do governo, pronunciadas por adultos.

Acho que nós, adultos, deveríamos parar de tentar entender quem são esses jovens vivendo o seu rito de passagem politico e pensarmos como entramos nesse movimento, como podemos ser "escada" (usando um termo teatral) deles. E dizer para os adultos reacionários: "vai mexer com alguém do seu tamanho".

Abraços,
Silvia da Costa