24 de jun. de 2015

Militância e identidade

A história da militante negra americana Rachel Dolezal que foi acusada de ser branca pelos pais e acabou por perder seu posto como associação em que trabalhava, é das mais interessantes.
Difícil refletir sobre todos os aspectos envolvidos no caso, mas um dos elementos que me chama atenção é essa exigência de uma relação identitária para que ela seja uma militante da causa.
Uma das lutas da democracia é de que para que um sujeito possa atuar em sua comunidade - com o voto, com a palavra, com uma ação - dele não seria exigida nenhuma distinção em relação aos outros. Ou seja, a democracia estaria abalada quando a legitimidade para a ação dependesse de elementos que antecedem a ação. Ser o mais rico ou o mais popular, por exemplo.
Enfatizar a democracia, colocaria a definição de uma militante do movimento negro nas práticas e engajamentos que esta mulher tem e teve ao longo da vida e não em algo que a antecede como sujeito – o fato de ter nascido branca ou não.

Quando o militante diz: “Eu posso falar sobre isso porque sofri na pele e você não”, de certa maneira ele está reproduzindo a mesma lógica da dominação. Aquela que diz que apenas alguns tem legitimidade para dizer, sentir, agir.
Certamente que essa percepção não é simples, sobretudo quando estão envolvidos grupos que tradicionalmente são excluídos dos debates públicos ou que sofrem violências frequentes em uma sociedade dominada por homens, brancos e ricos.
A radicalização dos princípios democráticos, no caso dessa militante, seria a possibilidade de ela se afirmar negra e branca, simultaneamente. Como se a militância pudesse permitir uma certa suspensão de identidades excessivamente demarcadas, uma militância imediatamente política.

16.6.15

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