19 de jun. de 2007

A mão que pensa



No meio dos anos 90 os filmes deixavam de ser montados nas moviolas, estas grandes máquinas, normalmente italianas, americanas ou alemãs, onde se assistia, cortava-se e colava-se o copião (cópia em positivo para trabalho). A partir dali começamos todos usar computadores. Na época ouvi de vários montadores que algo se perdia, o contato manual com a película, o toque no filme. Esta reclamação sempre me pareceu ser parte por uma certa nostalgia ou uma simples dificuldade em aceitar que alguma coisa mudava nos gestos e odores, mas que o fundamental; o corte, a montagem, as decisões que se toma na sala de montagem, continuavam sendo o que importava no trabalho e isso não era muito diferente da moviola para o computador.

Pois, assim como os cegos desenvolvem uma tal sensibilidade com as mãos que os torna até capazes de identificar as cartas de um baralho, algo parecido acontecia com os montadores na moviola. Não era só com olhos que os montadores escolhiam o lugar do corte, mas com as mãos, com o tato apurado de anos de trabalho. O que os montadores sentiam falta não era o contato com a película, mas com a imagem mesmo.


Para o montador a mão é a fronteira entre o corpo e o que está for a dele. A mão opera essa mistura entre o intelecto que pensa o que a ela deve fazer e o corpo que faz sem passar pelo intelecto; um corpo que pensa. A mão torna-se não só o que faz o contato, mas o que pensa e seleciona o mundo.

A primeira imagem é de uma Steenbeck, rápida, precisa e com ótima qualidade de imagem. Conta-se que quando elas chegaram ao Brasil dizia-se que elas eram tão boas que nem precisava de montador.
A segunda é uma autêntica Moviola, americana.

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