15 de jun. de 2007

Pós-democracia e educação

Depois da vitória de Sarkozy na França, essa semana se decide as eleições legislativas. Sarkozy deve ter uma ampla maioria na câmara. A vitória de Sarkozy é um perfeito exemplo do que Rancière chama de uma pós-democracia. Pós, não no sentido de uma democracia pós-moderna mas no sentido de uma paradoxal forma da democracia - A França é um país democrático - que consiste em destruir as formas de democracia mesmo. Ou seja, chamamos de democracia, na França e no mundo todo, uma administração dos dispositivos estatais e das composições entre as forças que participam do jogo "democrático". Na pós-democracia deixa-se de fora o que está fora - os gritos que ainda não são palavras - e organiza-se a política como administração das partes, identidades e indivíduos que não trazem o que há de mais próprio à democracia; o litígio, o deslocamento das identidades sociais. A democracia implica uma virtualidade do ser, o que ele pode ser e não uma administração do que ele já é.
O exemplo da reforma que o governo Sarkozy propõe à educação é paradigmática desta democracia que destrói a essência da democracia. Na França as crianças e jovens devem estudar em escolas próximas de casa, do mesmo bairro. Isso traz um problema para alguns pais pois seus filhos são obrigados a estudarem em escolas piores que a do bairro ao lado ou em escolas em que a maioria dos alunos não é de origem francesa. A escola pública é um espaço eminentemente político e esta regra obrigava que os pais estivessem sempre tomando a questão para si, brigando por escolas melhores, com menores desníveis entre bairros e com uma multiplicidade que evitasse a formação de guetos. Pois a proposta que deve ser adotada à partir de agora dá direito aos pais de colocarem seus filhos nas escolas que desejarem. Evidentemente não há lugar para todos nas escolas mais desejadas, o que dá à administração da escola a possibilidade de escolher os alunos que deseja, normalmente os melhores e menos problemáticos. Nesse gesto, o governo consegue, homogeneizar as escola melhores e as piores, aumentar o desnível entre elas, aumentar os guetos, tanto dos ricos como dos pobres e, claro, falar em democracia - "todos tem direito em estar na escola que quiser" - destruindo a democracia - lugar de embate e dissenso.
Ainda nos termos de Rancière, a escola deve deixar cada vez mais de ser política para ser polícia. (na entrevista abaixo ele desenvolve os conceitos)

Entrevista com Rancière - em Português

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