19 de mai. de 2020

Diário do entre-mundos 52

Como brasileiro e como espécie meu pessimismo é bem grande.
Não vou dizer que sempre piorou, mas o desastre como espécie, desastre do mundo e do país, são coisas evidentes demais.
Pode ser um desvio momentâneo de postura, mas é o que o corpo pode agora.
Entretanto sou desses privilegiados que trabalham com pessoas. Na UFF, na Casa Jangada, no consultório, nos livros, sempre pessoas com nomes e histórias. Nas vidas, não interessa meu pessimismo. Aqui ao lado é mais uma pessoa, mais um sujeito que está nesse mundo. No mundo que temos. Aí, o pessimismo não serve de nada. Em algum lugar há uma forma de estar por aqui e fazer de hoje, de amanhã, de mais uma geração, uma maneira mais viva de encarar nossos frequentes desastres individuais e coletivos. Alguma maneira mais alegre de viver com as pessoas esses desastres.
Contra os desastres estão os grandes, aqueles que estão em uma luta de massa, contra grupos inomináveis, inimigos palpáveis. Que beleza desenham esses que colocam os músculos na frente do desastre. Se podem fazer isso é porque também estão ao lado de pessoas, de amores.
Pessimista ou não, há algo de irrelevante nessa classificação. Uma ética da alegria possível, dos encontros excêntricos e das possibilidades de uma vida plena em cada indivíduo é o que podemos, é o que desvia o desastre. Exigência dobrada em tempos de desastres múltiplos..
-- Diário do entre-mundos 52 

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