29 de jul. de 2016

26 maio 16

Se tornou corrente entre certo pensamento crítico de esquerda apontar continuidades entre o governo Dilma e o governo Temer. “Eles não são tão diferentes assim”, parecem dizer.
Creio que antes de qualquer comparação, é preciso encarar uma diferença de natureza entre os dois governos. Essa diferença de natureza se deve à forma como Dilma e Temer chegaram à presidência. 
Golpe ou não golpe, o que marca uma diferença de natureza entre os governos é a traição. 
Enquanto Dilma - entre incompetências, possíveis diálogos com a sociedade e opções questionáveis pelo campo da esquerda - é eleita para estar ali, Temer é fruto de uma esperteza e de uma malandragem com a lei. Tanto adeptos de Dilma como aqueles que defendem o impedimento, estão de acordo em perceber que as múltiplas inabilidades de Dilma abriram as portas para que bote dos traidores pudesse acontecer.
Pois esta diferença de caminhos para a presidência institui duas naturezas de governo (mais do que a discussão de se houve ou não golpe).
A primeira e radical consequência dessa diferença de natureza é simples: Para os traidores, não há nada a esconder, não há máscara democrática para esconder a realidade. Está tudo às claras.
Sem ter o que esconder, sem ter que dissimular a artimanha que leva Temer ao poder, é no campo das práticas que as consequências aparecem. Quem se legitima explicitamente na esperteza e na traição não precisa negociar com nenhum ator social fundado na legitimidade da representação democrática.
Assim, quando comparamos as primeiras ações do novo governo com que Dilma fazia, precisamos ter em mente que por mais que às vezes possamos ver alguma proximidade, o que perdemos foi qualquer possibilidade diálogo, tensão e dissenso com o novo governo.
A esperteza é um princípio impermeável à sociedade.
Traição e esperteza não apenas marcam uma forma de chegar ao poder, elas são necessárias para os desmontes das construções sociais que os novos mandatários começam a fazer. Elas são necessárias porque instituem um governo em que a sociedade e a democracia são irrelevantes.
A traição é um norte, mais do que uma arma pontual.
É Com essa dupla, Esperteza/Traição, que se torna possível ser autoritário, rápido, cínico e brutal e não ter que prestar contas alguma.
Em suma, 1) falar em diálogo com esse governo é esquecer com quem se fala. 2) Apontar continuidades do governo Dilma e Temer pode ser importante para um projeto de esquerda, mais irrelevante para pensar esse governo.
Se tínhamos muitas insatisfações com Dilma, uma coisa é certa, as armas agora são outras.

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