21 de abr. de 2020

Diário do entre-mundos 19

Exaustão. Como estar exausto se estamos em casa, frequentemente com menos trabalho?
A exaustão não é um efeito da ocupação do tempo, do trabalho, apenas. A exaustão é perceber o desabamento e tentar segurar as pontas. E assim, mães, pais, adolescentes, trabalhadores, brigando para ter um pouco mais de força com o cotidiano alterado, com a casa suja três vezes por dia – Ufa tenho uma casa! – só isso já poderia resolver a angústia!, mas não. E a escola que não dá desconto e me obriga a ser professor de tudo!
Ter a cama para deitar e resolver a exaustão. Mas ela não é só física. E em cada canto alguém parece estar perdendo o chão. Haja braço. Já que abraço...
“eu tava beijando meu namorado na porta de casa e fui insultada: Olha o corona!”
O beijo virou insulto. A exaustão do presente que escorrega, do futuro que não se sabe.
Hoje temos que nos dar o direito à exaustão. E quando pararmos, que seja para descansar. Eis a coisa mais difícil da exaustão. Não há descanso possível. O exausto dorme pouco, vira noites, pensa, repete e gira em volta da exaustão. Se for possível o cansaço, já é um caminho. Se for a exaustão, que seja sem culpa.
Segura essa.
-- diário do entre-mundos 19 --

Nenhum comentário: