25 de abr. de 2020

Diário do entre-mundos 29

A fala do presidente com os ministros é desses momentos tristes e inesquecíveis de um país.
Todos em pé durante longos minutos, lutando contra o sono e cansaço, obrigados a sair de casa para compor uma cena em apoio ao presidente e se arriscarem ao contagio. Todos ali sem direito à fala, sem direito a se expressarem, torturados por um discurso egoico, paranoico, auto-
incriminante e profundamente constrangedor.
Antes de ouvirmos qualquer coisa, fica explicita a lógica do torturador: é preciso humilhar para mostrar poder. É essa a lógica de Bolsonaro. “Se vocês estão achando que eu não mando, mando sim: olha aqui, trouxe todos eles para serem humilhados na frente de vocês”.
O ministro da saúde, depois de receber a notícia de mais de 400 mortes por dia trata o fato como se fosse uma infiltração: “temos que ver isso ai!. Vamos ver se vai crescer”. Paulo Guedes, se é que era ele, já botou outra fantasia e, no governo em que a repetição de ideias falidas não faz mais sentido, ele já anuncia que não veste o mesmo uniforme que a tropa. Araújo, ao lado do torturador deve ter explicado que a solução é levar os comunistas até beira do planeta Terra e empurra-los de lá.
A cena era também uma forma de torturar o país. Durante a pandemia, Bolsonaro para tudo para fazer da sua pequeneza, da sua mediocridade, o espetáculo maior. A cena de ontem mostrava que o Planalto, com piscina fria, foi transformado em um bunker em que apenas os torturadores e delirantes terão espaço.
O delírio em si não é problemático. Já o torturador precisa ser impedido muito rapidamente.
-- Diário do entre-mundos 29 --

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