21 de abr. de 2020

Diário do entre-mundos 22

té pouquíssimos dias atrás eu não saia de máscara, eis que tenho uma urgência dentária e sou obrigado a circular nas ruas surpreendentemente cheias do Largo Machado.
Muita máscara na rua. Eu, com uma azul que cobria todo o rosto e tinha o inconveniente de embaçar meu óculos a cada respiração. De máscara as coisas saem de foco. Um certo calor também circundava meu rosto. Quase uma falta de ar. Mas não é esse o sintoma? Deus, botei a máscara e peguei o vírus.
Mas, eis que de máscara começo a perceber todas as pessoas que estão sem máscara, dentes simpáticos à mostra e visão desimpedida.
Até ontem eu era um deles, agora estou indignado: devem ser bolsonaristas! Não estão pensando na gravidade da situação, não pensam em ninguém, são terraplanistas ou cínicos do mercado,
O senhor deveria estar de máscara! Penso em dizer com ar preocupado ao motorista do uber e ao dono da banca.
Me revolta essa gente fazendo o que não posso mais fazer!
E aí, entendo o ódio dos conservadores que hoje não querem máscaras. Se até ontem eles nos odiavam por nossas liberdades de pensamento, sexual, artísticas, hoje podem ser livres, ter um vírus pra chamar de seu e respirar, por enquanto, sem embaçar o óculos.
-- Diário do entre-mundos 22 --

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