O programa do PT exibido essa semana segue o padrão "história de vida".
O Lula diz que o que ele mais admira na Dilma é a sua história.
É uma forma do Lula se perpetuar, ninguém terá uma história melhor que a dele.
O Serra vem fazendo a mesma coisa, cada vez que fala conta a história do pai, do sofrimento, da família popular.
O Lula empregnou ainda mais a política como lugar de quem merece estar ali pelo sofrimento e pelo sucesso pessoal.
Marcante ainda no programa é que a Dilma e o Lula não falam para o espectador, mas para alguém fora do quadro.
NInguém acredita mais na fala para todos, como no JN. No final da campanha cada candidato contará sua história pessoal sussurando no ouvido de alguém.
Para manter a intimidade e a presença popular, Dilma vai ao interior conversar com uma senhora que recebeu luz em sua casa. Tudo está lindo e ela, representante do povo, termina o "encontro" agradecendo. "Muito obrigado por ter feito isso pra nós". Constrangedor. Já imaginou, uma entrevista com um professor universitário: - O prédio novo foi construido, muito obrigado por ter feito isso pra nós! O personalismo que esse tipo de eleição fomenta é desastroso e o pessoal da publicidade e do PT não consegue inventar nada fora disso. Uma pena.
Uma pena que um governo com tantos pontos fantásticos se rebaixe a esse tipo de comunicação popularesca.
Um comentário:
Eu só vi agora, realmente assustador!
Sobre essa coisa deles não falarem diretamente para o espectador e isso trazer mais veracidade: por que a gente não acredita mais tanto em quem fala olhando pra lente? Por que? Será porque olhar diretamente (olhos-lente num ângulo de 90 graus) traz para aquela fala um manipulação que rejeitamos, ainda mais quando vem dos políticos? Tanto que eles só olham pro entrevistador quando estão falando da vida pessoal, repare. QUando é pra falar do Governo, das atuais e futuras realizações, é hora de ser firme e direto.
Quanto mais de lado, quanto mais angulada a relação lente-olho mais a fala ganha em "documentalidade", mais fácil o espectador se esquecer de que aquilo é uma propaganda eleitoral. Acho que a fala da Dilma mostra muito isso, porque mesmo querendo maquiar seu olhar direcionado a entrevistador oculto, ela não consegue esconder que lê um TP, a fala permanece oficial. Ao contrário do Lula, que chega a desviar o olhar para outros eixos, onde estariam outros possíveis outros entrevistadores ocultos.
Talvez por uma consciência que os espectadores/eleitores possuem de que campanha política na TV é feita de manipulação de imagens (e não de lugar de projetos), esteja levando os diretores destas a, mais uma vez, recorrer a estética do documentário.
"O espetáculo melhor situado no mercado atual, o mais vendido aos publicitários é – extrema ironia – aquele que mais toma emprestado do documentário" (Comolli)
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