31 de jul. de 2014

que trabalho para os jovens?

O Marcus Faustini publicou uma boa coluna hoje no Globo.
O tema dos 500 mil jovens que não trabalham nem estudam no Rio de Janeiro é dos mais graves do estado.
Grave no sentido de que ele expressa uma falta de emprego e escola? Sim e não.
O Marcus colocou bem: há desejo nos jovens. Quem tem alguma proximidade com eles sabe bem disso.
A resposta mais simplista para o problema é: mais escola e mais emprego.
Entretanto, o desejo atrapalha esses planos que acreditam que basta qualquer escola ou qualquer emprego.
O que queremos então para esses 500 mil, que entrem no roteiro – emprego medíocre e educação para o emprego medíocre? Ou queremos que sejam sujeitos de palavra, logo inconformados?
Nesse sentido, não somos nós que temos que responder.
Não há resposta para esses jovens sem corpo a corpo com eles.
Que eles tem o direito de participar da cidade não há dúvida, mas como?
A primeira coisa a fazer por esses 500 jovens e tirá-los das estatísticas para ouvir seus desejos de participação. Para isso teremos que estar preparados para ouvir que o emprego e a educação que temos a oferecer é muito, muito inferior às suas potências.
Inventar conformistas com o que temos para oferecer é o que não devemos fazer por eles.

http://oglobo.globo.com/cultura/o-nem-nem-tem-tem-13410898

28 de jul. de 2014

"Da Sorbonne para a rua"

A história da Professora Camila Jourdan que a Folha conta hoje com a chamada "Da Sorbonne para a rua" é mais uma dessas histórias que dificultam as estratégias retóricas de tantos que acham que a universidade e os pesquisadores são encastelados, distantes das tensões e paixões do cotidiano.
Não é bem assim.
A Universidade está incessantemente produzindo aberturas e canais com os engajamentos de todo dia - com a política, com a educação, com a mídia, com os movimentos sociais, etc.
A própria dicotomia entre Sorbonne e rua é preconceituosa. Universidade e Rua fazem parte de um só mundo; com dificuldades, esforços, embates.

25 de jul. de 2014

A violência do jurídico e da mídia que vimos nos últimos dias é grave na medida em que ela é pautada por uma negação da democracia. Negação da possibilidade de qualquer um fazer parte da cidade e das decisões que forjam a comunidade em que estamos.
A democracia pressupõe o dissenso, o desacordo em relação às formas do poder se organizar.
Aceitar que nenhum projeto político-midiático é total e que toda adesão é limitada é o princípio para que a democracia se fortaleça.
A democracia não é uma harmonia ou um consenso, mas a possibilidade da tensão do dissenso.
O que vimos recentemente foi a negação dessa possibilidade.
Lembremos que na grande imprensa os manifestantes foram acusados de anarquistas, de organizadores de manifestações e, por incrível que pareça, de torcerem contra o time do Brasil na Copa do Mundo. O patético se torna trágico uma vez que é a democracia que está em jogo.
Já o judiciário manteve presos advogados que, entre outras coisas, estavam perto de manifestantes e se de dispuseram a defendê-los.
Os argumentos usados, tanto na mídia como no judiciário, são atravessados por um preocupante ódio à democracia.
Para esses poderes, parece insuportável que alguns se manifestem dizendo: não autorizamos tudo! Não autorizamos pré-julgamentos, não autorizamos um estado que me cala.
No momento em que a ordem social impossibilita o dissenso e nega a presença do outro, desobedecer é o que nos resta.
Ou como escreveu Thoreau, no fim do século XIX: “a desobediência civil é inerente à democracia”
Nesse sentido, foi fundamental a não apresentação à polícia dos 18 manifestantes e a ajuda da deputada Janira Rocha à Eloísa Samy, mas, sobretudo são esses fatos também que materializam a necessária processualidade da democracia.
A democracia não está pronta e sua construção depende de sujeitos e comunidades que não aceitam as formas da representação se fazer hoje.
Resistir às formas do poder se organizar hoje é uma forma de lutar pela democracia e a o ataque que mídia e o jurídico fizeram nos últimos dias não é à Sininho ou à outro manifestante, mas à democracia mesmo.
Mas o país está vivo e esse ataque encontra limites.

21 de jul. de 2014

Há pelo menos 30 anos me manifesto politicamente; sem que isso tenha muita relevância, é verdade.
Comecei a me interessar por política no final da ditadura, com o surgimento do PT, com a possibilidade de eleições livres.
Na Universidade, antes das eleições diretas que elegeram o Collor, os debates eram intenso e cotidianos. Escrevíamos em pequenos jornais, íamos de sala em sala além de muitas passeatas e comícios.
De lá para cá, mesmo sem ter a política institucional como uma ocupação central, nunca deixei de me colocar, escrever, manifestar, etc.
Hoje, pela primeira vez, temo represálias.
Há algo acontecendo nas práticas agressivas e irresponsáveis das policiais, do jurídico e das midiáticas que é de grande gravidade. Não se trata mais de fatos isolados, mas de uma política que procura instituir uma cultura de controle de toda resistência ao que se opõe à ordem estabelecida por esses poderes.
Se na grande mídia não há mais voz ou estética dissonante, é preciso matar esses dissensos venham eles de onde for.
Pagaremos caro por esse estado de medo e arbitrariedades que se institui.
Há algo novo no ar. Um medo que não conhecia.