Gilles Deleuze, Março de 1980
Pensando o estado e o capitalismo
“É fascinante a situação do Brasil.
Uma situação de suspense. Estamos diante da possibilidade de um estado social democrata e eleições livres ou a possibilidade da volta de um estado totalitário.
Até onde irá o entendimento entre esses polos?
Caso raro na história em que esse suspense se apresenta.”
http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k1282807.r=deleuze.langFR
Pensando o estado e o capitalismo
“É fascinante a situação do Brasil.
Uma situação de suspense. Estamos diante da possibilidade de um estado social democrata e eleições livres ou a possibilidade da volta de um estado totalitário.
Até onde irá o entendimento entre esses polos?
Caso raro na história em que esse suspense se apresenta.”
http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k1282807.r=deleuze.langFR
A aula tem dois
focos: Uma reflexão sobre a diferença entre o estado social democrata e o
totalitarismo feita a partir da forma como o estado cria ou esvazia os axiomas. Retomado Virilio, Deleuze diz que o estado totalitário é, na verdade, o estado mínimo - fundado apenas em dois
axiomas, da acumulação de reservas e da inflação. O resto são teoremas -
desdobramentos desses axiomas.
O estado SD
tende a multiplicar os axiomas: um axioma para as mulheres, um para os negros,
etc.
O segundo foco
da aula é sobre o marxismo. Muito bom!
Qual o limite do
capital para Marx?
Trata-se de um
limite interno e não externo - ecológico, humano ou energético. Um limite
imanente. Quanto mais ele se aproxima, mais ele o empurra.
Esse limite
traduz uma contradição.
O capitalismo
inventa a produção pela produção. Ao mesmo tempo que inventa um produzir por
produzir; um produzir para o capital, uma contradição aparente.
Para explicar
esse limite interno do capital, Deleuze volta ao Brasil com o Livro “O Açucar e
a fome” de Robert Linhart. No livro o autor pesquisa o desenvolvimento do
capital ligado ao açúcar e como este capital está envolvido em uma rede de
poderes que ao mesmo tempo em que é pautado pelo axioma exportador é produtor
de capital, de açúcar e de fome. Fome produzida pela evolução do capital com a
monocultura, com homogeneidade da plantação, pelo latifúndio. Nossa conhecida
indústria da seca que Deleuze apresenta como um produto do próprio desenvolvimento,
um limite imanente ao próprio capital.
O limite que não
paramos de empurrar. Não é que as pessoas morrem de fome, esse seria o limite
definitivo, mas não, o que acontece é uma produção incessante e crescente de
famintos, diz Deleuze, ou, pobres, se quisermos.
Esse exemplo permite
Deleuze explicar como não há volta atrás no caso do capitalismo e essa é a
nossa desgraça.
Quando há
excesso de açúcar, começamos a usar em carros – álcool. Até um certo ponto
podemos usar os mesmo motores, mas, quando é necessário colocar mais álcool nos
carros, as indústrias precisam fazer novos motores, operando um movimento
essencial na transformação do capital constante, ou seja, é preciso
desvalorizar um capital constante para produzir outro.
No momento que a
indústria começa a fazer carros com motores para álcool, não há mais volta na
monocultura e na forma de vida que esta implica. Eis a flecha irreversível do capitalismo.
Tão parecido com os argumentos pró-Belo Monte!
Nenhum comentário:
Postar um comentário