1 de jul. de 2012

Capitalismo e açucar - Deleuze aula de 1980 / MIl Platôs


Gilles Deleuze, Março de 1980
Pensando o estado e o capitalismo

“É fascinante a situação do Brasil.
Uma situação de suspense. Estamos diante da possibilidade de um estado social democrata e eleições livres ou a possibilidade da volta de um estado totalitário.
Até onde irá o entendimento entre esses polos?
Caso raro na história em que esse suspense se apresenta.”

http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k1282807.r=deleuze.langFR


A aula tem dois focos: Uma reflexão sobre a diferença entre o estado social democrata e o totalitarismo feita a partir da forma como o estado cria ou esvazia os axiomas. Retomado Virilio, Deleuze diz que o  estado totalitário é, na verdade, o estado mínimo - fundado apenas em dois axiomas, da acumulação de reservas e da inflação. O resto são teoremas - desdobramentos desses axiomas.
O estado SD tende a multiplicar os axiomas: um axioma para as mulheres, um para os negros, etc.

O segundo foco da aula é sobre o marxismo. Muito bom!
Qual o limite do capital para Marx?
Trata-se de um limite interno e não externo - ecológico, humano ou energético. Um limite imanente. Quanto mais ele se aproxima, mais ele o empurra.
Esse limite traduz uma contradição.
O capitalismo inventa a produção pela produção. Ao mesmo tempo que inventa um produzir por produzir; um produzir para o capital, uma contradição aparente.
Para explicar esse limite interno do capital, Deleuze volta ao Brasil com o Livro “O Açucar e a fome” de Robert Linhart. No livro o autor pesquisa o desenvolvimento do capital ligado ao açúcar e como este capital está envolvido em uma rede de poderes que ao mesmo tempo em que é pautado pelo axioma exportador é produtor de capital, de açúcar e de fome. Fome produzida pela evolução do capital com a monocultura, com homogeneidade da plantação, pelo latifúndio. Nossa conhecida indústria da seca que Deleuze apresenta como um produto do próprio desenvolvimento, um limite imanente ao próprio capital.
O limite que não paramos de empurrar. Não é que as pessoas morrem de fome, esse seria o limite definitivo, mas não, o que acontece é uma produção incessante e crescente de famintos, diz Deleuze, ou, pobres, se quisermos.
Esse exemplo permite Deleuze explicar como não há volta atrás no caso do capitalismo e essa é a nossa desgraça.
Quando há excesso de açúcar, começamos a usar em carros – álcool. Até um certo ponto podemos usar os mesmo motores, mas, quando é necessário colocar mais álcool nos carros, as indústrias precisam fazer novos motores, operando um movimento essencial na transformação do capital constante, ou seja, é preciso desvalorizar um capital constante para produzir outro.
No momento que a indústria começa a fazer carros com motores para álcool, não há mais volta na monocultura e na forma de vida que esta implica. Eis a flecha irreversível do capitalismo.
 Tão parecido com os argumentos pró-Belo Monte!



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