Quando falamos da violência policial das últimas semana, com
frequência ouvimos que não houve novidade, que a polícia sempre foi violenta.
Ok, é verdade, entretanto, essa constatação pode nos
distanciar das nuances do que acontece agora.
Há muitos anos não víamos a polícia atacar manifestações
como aconteceu no Rio de janeiro, em Fortaleza ou Belo Horizonte.
Qualquer adolescente que frequentou as manifestações sentiu
o efeito do gás lacrimogênio e viu pessoas feridas. O que estava restrito às
ações no campo ou diretamente contra os pobres, se tornou uma ação central, um
modo de operar para a cidade toda, essa diferença não é irrelevante.
Essa ação da polícia não foi apenas de defesa de bens e de
território, mas um ataque que fez com que o medo esvaziasse as ruas.
Deliberadamente a polícia fez de todo manifestante um alvo, um agressor. Nos
tornamos o inimigo a ser combatido. Se em um primeiro momento a ação policial,
em São Paulo sobretudo, inflou as manifestações, o que vimos no dia da final da
Copa das Confederações foi um esvaziamento, causado, também pelo medo.
Nesse ataques da polícia duas coisas se explicitaram.
Primeiramente a truculência policial foi acompanhada de uma
truculência da mídia. Ou a grande impressa camuflou o que acontecia, foi o caso
de Fortaleza e São Luiz, ou partiu explicitamente para a narrativa desonesta e
cínica de Vândalos X pessoas de bem.
Em segundo lugar, esses ataques policiais explicitaram para
todos o papel do estado na relação com a Copa do Mundo, ou mais
especificamente, o papel do estado na relação com o capital. A polícia esteve
intensamente presente para afastar dos estádio qualquer manifestação que
exprimisse qualquer desacordo com as opções do conglomerado
FIFA/Capital/Estado.
A revolta se intensificou, obviamente. Todas as instância
capazes de fazer alguma mediação entre os desejos e reivindicações populares e
as rumos que a Copa tomava, estavam imobilizadas, esvaziadas e abertamente
contra a população.
Me parece espantoso que o governo do estado que nas últimas
eleições se reelegeu com a bandeira de uma policia eficaz que diminui a
violência, fora a relação que a classe media vinha estabelecendo com a polícia
por conta da lei-seca, normalmente incorruptível, tudo isso tenha sido jogado
no lixo para inviabilizar as manifestações.
Encerramos a Copa das Confederações com uma boa parte da
sociedade revoltada com os abusos do estado, do capital e da polícia.
Quando no entorno do Maracanã no domingo, havia milhares de
policiais preparados para uma guerra, a insistência dos manifestantes em se aproximar
do estádio, reivindicar aquele espaço, trazia um admirável heroísmo. Difícil
não se comover com esses manifestantes que não aceitavam as regras da FIFA.
Se há o desejo de manifestação e elas são inviabilizadas
pela truculência, a resposta pode ser desastrosa. Já vimos no último domingo a
utilização de coquetéis molotovs, gritos incessantes de assassinos para a
policia. Não me ficarei surpreso com ações mais radicais dos manifestantes,
reagindo ao vandalismo policial.
Com os últimos eventos, mais do que propostas irrelevantes
como transformar a corrupção em crime hediondo, o estado precisa dar uma
resposta à violência deles mesmos contra a população.