8 de set. de 2013

8 de setembro.


Tudo que acontece nas manifestações posteriores às jornadas de junho nos coloca novos desafios.
Em junho, questionava-se as manifestações por elas não terem um foco explícito; apesar dos questionamentos ligados à Copa das Confederações e à forma como esse evento trazia a tona uma elitização generalizada do espaço público. Espaço público este em disputa desde as primeiras manifestações em que a questão do transporte era central.
Apesar da diversidade de reivindicações, as manifestações estavam centradas em um desejo por uma dimensão comum da riqueza, seja no acesso aos jogos e legados, seja no acesso à riqueza da cidade, em que o transporte é necessário.
Junto às múltiplas reivindicações, as jornadas de junho foram marcadas pela ausência de lideranças, seja de indivíduos, seja de organizações tradicionalmente instituídas.
Desde então, e falo especialmente do Rio de Janeiro, vimos a radicalização desses dois aspectos: a reivindicação pelo direito à cidade, centrada na luta por uma CPI verdadeira sobre as relações entre políticos eleitos e empresários de transporte. E na radicalização do anonimato presente na multiplicação das máscaras e dos manifestantes que apenas reivindicam serem a multidão.
Como sabemos, a política do Rio está em grande parte sustentada pela conexão com o capital ligado ao transporte e à construção. O Porto Maravilha, por exemplo, a principal obra urbanística de preparação do Rio para as olimpíadas tem o seu espaço esquadrinhado pelas empreiteiras Odebrecht, OAS e Carioca; sendo que as duas últimas são as maiores doadoras da campanha do prefeito. Já Odebrecht, íntima do governo do estado, é dona, por exemplo, de todos os acessos hoje à Niterói, uma vez que é majoritária da CCR que controla a ponte, as barcas e ônibus que leva a Niterói.
Por essas razões, a CPI dos transportes se tornou questão central para a democracia e graças à ação de algumas centenas de manifestantes conseguiu-se explicitar o autoritarismo da câmara e do prefeito ao impossibilitarem que a CPI fosse instalada com a presidência entregue ao seu proponente. Temos hoje no Rio uma CPI em que todos os membros votaram contra a sua existência.
O segundo ponto, o anonimato, também encontrou nas manifestações pós-junho uma intensificação. Os mascarados viraram uma estética, uma marca que explicita um destemor em relação ao poder opressor: podem jogar o seu gás que aguentamos!
As máscaras marcam o “um qualquer” o mais um. Somo muitos, multiplicáveis mas sem nome, sem líder. No mundo das celebridades, tal anonimato é perturbador.
O curioso nisso é que essa estética que antes parecia restrita a um grupo, disseminou-se. No 7 de setembro eram muitas as variáveis dos jovens vestidos de preto, difícil hoje organizá-los como um grupo coeso e único, como gostaria a grande mídia e os poderes que os incriminam indiscriminadamente.
Me parece que o desafio é tirarmos as reais consequências dessa forma da política se fazer presente hoje; em tensão com o direito à cidade e recusando a naturalização do espetáculo das celebridades que atravessa a política – cineastas inclusive.
Como me perguntava um amigo: o que você propõe no lugar das eleições que reorganizam os poderes em torno do capital?
Sinceramente, não sei, só sei que aqueles que ocupam as escadarias da câmara do Rio trouxeram novos componentes, absolutamente necessários, para a política.

Um comentário:

Silvia da Costa disse...

Oi Cezar,
Uma novidade ao debate: a GloboNews adotou o método da Mídia Ninja para cobertura do 7 de setembro. Dois jovens repórteres usavam celulares e narravam sem pausa as ações ao vivo. Como pensar isso? Sob a luz de Guy Debord?
Abraços, Silvia