31 de mai. de 2007
e o mundo se põe a cantar... + o virtual
Essa é a alegria presente no filme Les Chansons d’Amour de Christophe Honoré que estava em Cannes. Amores banais e uma tragédia, mas, o que não é nada banal é a euforia das relações que se dão pela música. Sem ironia nenhuma o mundo se põe a cantar.
No mesmo dia, de maneira diferente, o mundo se coloca a cantar. Trata-se de Nani Moretti em Palombella Rossa, de 89. Humor e política na sua melhor forma. Moretti fala do fim do comunismo e do PCI (Partido comunista Italiano) de maneira original. O fim do comunismo coincide com a amnésia do personagem. Ele sabe que é comunista, mas não tem muita idéia do que isso quer dizer.
O personagem de Moretti, um jogador de pólo-aquático, se revolta com a forma como se desrespeita as palavras e língua. "'é preciso respeitar as palavras", grita ele com muito humor. Essas passagens me lembraram uma insistência que o historiador de arte Didi-Huberman tem com algumas palavras. Virtual, por exemplo. Para ele, virtual é um conceito e uma palavra rara, especial, que foi capturada e vulgarizada. A vulgarização de uma palavra bela não justifica seu abandono mas a luta por ela, para que ela possa guardar a sua virtualidade.
Sur les chemins du virtuel, de Pierre Levy (em francês)
O livro "O que é o virtual?" de Levy está publicado em português.
30 de mai. de 2007
Slavoj Žižek, Zack Snyder e os números do elevador
Assim filósofo da Eslovênia, Slavoj Žižek, encerrou sua palestra no Beaubourg. Foram duas horas entre Lacan e política contemporânea. Uma performance cheia de exemplos da cultura de massa, como o do filme acima e do cotidiano. "Uma grande diferença entre os Estados Unidos e a Europa é que nos EUA os andares em um prédio começam no 1 e não no 0. Eles não sabem que antes do um não há nada. Para eles o começo é a unidade. O lugar perfeito é a Polônia - no que concerne a numeração dos andares de um prédio. Na Polônia o 0 é 0 e o primeiro andar é 2." Do nada ao múltiplo.
à venda na Amazon documentário sobre Zizek
Palestra nos Estados Unidos
Artigo em que aborda o filme 300
Guimarães Rosa
Liberdade e precisão sem medida nesta frase de Rosa: "Fita Verde partiu, sobre logo, ela a linda, tudo era uma vez". (Fita Verde no Cabelo: Nova velha história)
29 de mai. de 2007
RCTV e Globo
Não consigo compartilhar a defesa mas compartilho a alegria. Se tivesse que me colocar como venezuelano, as coisas seriam diferentes.
Mas a situação é mais complexa, a Globo, por exemplo, não se faz sozinha, os espectadores não são bonecos e não há hegemonia possível, nem de Chavez, nem da Globo.
A felicidade do caso Chavez é pelo fato do poder público, democraticamente eleito, poder fazer valer a lei; não renovar uma licença de uma emissora de TV. O poder público dando limites para a mídia. Impressionante.
Ver links: Carta Capital e Observatório das Imprensa
Jason Dee
Assim como em alguns trabalhos de Rachel Reupke, Jason Dee joga com a sobreposição de imagens em movimento sobre imagens fixas e vice-versa. O velho chroma-key reatualizado com a fotografia.
Melhor ainda é Mic Transitions
Arte e resistência
Rancière não nega a possibilidade de aproximação entre política e arte, entretanto afirma a necessidade de se manter uma tensão entre as duas coisas. Elas não podem se unir nem se auto-suprimirem. A união entre as duas coisas - a aí a crítica à Deleuze - se constitui em um duplo esvaecimento, da arte e da política
26 de mai. de 2007
Agamben e política
O artigo A POTÊNCIA DE NÃO: LINGUAGEM E POLÍTICA EM AGAMBEN, de Peter Pál Pelbar faz parte de uma coletânea de textos que estão sendo publicados pela Documenta 12.
O artigo apresenta as principais teses de Agamben na relação entre política e linguagem. Um dos principais caminhos do texto é abordar a infância como o momento que acompanha o homem durante sua vida e que materializa o fato de no homem não haver uma coincidência entre língua e discurso, o que abre para uma pura potência da linguagem.
A dimensão política aparece na idéia de que se nos apropriamos desse livre uso da linguagem - não da linguagem para dizer isso ao aquilo - nos apropriamos também de uma virtualidade do dizer e do não dizer.
André Brasil trabalhou com esta noção da infância e da linguagem no texto Infância do cinema, publicado na Revista Cinética.
Tanto Pelbart quanto Brasil fazem uma incursão à obra de Agamben a partir de um enfoque que valoriza as potência do indivíduo pela infância, pela linguagem ou pela possibilidade da política e não pela frequente oposição que o italiano faz entre a "o poder" e a "vida nua" ou na utilizacão do Muçulmano do campo de concentração (Ce qui reste d´Auschwitz) como paradigma do bio-poder contemporâneo.
Cinema e Sarkozy
Artigo de Nelson Hoineff sobre a ocupacão das salas
Ainda Sarkozy: Essa semana ele apresentou a nova foto oficial do presidente. A foto foi feita pelo fotógrafo Philippe Warrin, o que trouxe um certo desconforto para alguns por se tratar de um fotógrafo conhecido na imprensa "people" - caras - como se diz na França. A foto no entanto é bastante mais próxima da foto oficial De Gaule do que das fotos que Warrin apresenta em seu portfolio.
25 de mai. de 2007
USP e Rancière
Blog de Marcelo Coelho com post sobre a USP.
alguma coisa acontece que o blog oficial da acupação não está no ar.
O Globo e os blogs
Quando entramos no blog do Noblat a matéria começa assim: Lobista pagou contas de Renan, diz a VEJA.
O blog do jornalista é utilizado pelo O Globo para não dar o devido crédito ao furo de reportagem à concorrente. O blog passa a ser uma maneira desonesta de lidar com a notícia e com o leitor
Road-Teia
My Google Search History
de Albertine Meunier
A arte correndo atrás do controle e perdendo feio.
Faz lembrar o clássico conceitual de On Kawara.
24 de mai. de 2007
Maker Faire - Feira do fazedor
Invenções de fundo de quintal que se tornam objetos excêntricos. Em um meio pragmático as instalações tem que ter uma função.
A dica é do Tiago Dória
A imagem do desespero
Se não há troca possível, se a pobreza não é parte da política, sobram apenas os gritos e sons indecifráveis que vêm à tona no desespero que se repete.
Pai das crianças fica desesperado ao ver os filhos mortos.(Legenda de O Globo) Foto de Márcia Foletto
Kerouac
Nesse vídeo Kerouac lê uma parte do livro.
23 de mai. de 2007
Basbaum / Holmes
Holmes trabalha com a noção de dispositivo interligando o dispositivo que constitui a obra e que é também um operador transindividual.
Site de com diversos links para o trabalho de Basbaum
Esse é meu corpo, esse é meu software
Usar o corpo como matéria para a arte é o que a artista francesa Orlan faz desde os anos 70.
Esse princípio é levado ao extremo com os trabalhos em que se auto-hibridiza através de múltiplas cirurgias plásticas.
Orlan sempre me pareceu uma artista datada, mas me engano, talvez ela seja apenas demasiadamente explicita e contemporânea.
http://www.orlan.net/
encontro com o público dia 1 de junho - Paris
Orlan, el cuerpo como individuo total
por Daniel Reyes León
Política do medo cria um mundo dividido
O medo é o que resolve os problemas em relação à diferença. Se o medo vem em primeiro lugar não é preciso incluir o outro no debate político. Ele torna-se desnecessário. A política do medo é antes de tudo o que exclui o outro da troca que produz o país, a cidade, o mundo.
Cineastas
Amizade e política
"Nós temos com o Presidente da República mais do que uma relação política, nós temos uma relação pessoal"
Impressionante. O Senador privilegia o pessoal, despreza a política e resume de maneira lapidar tanto a relação do PMDB com a política quanto a própria lógica do escândalo que derrubou o ministro.
22 de mai. de 2007
Pasolini sobre a interrupção voluntária de gravidez (1975)
Pasolini era incondicionalmente a favor da interrupção voluntária de gravidez e em 1975 escreve uma texto em que diz:
"ser incondicionalmente favorável ao direito de aborto garante um brevet de racionalidade, de inteligência esclarecida e de modernidade, etc"
e ainda no mesmo texto: "o novo poder de consumista permissivo se serve, pura e simplesmente, das nossas conquistas laicas, de inteligências esclarecidas e racionais, para construir sua base de falso laicismo, falsa inteligência esclarecida, falsa racionalidade."
"nossos velhos argumentos de laicos, de homens esclarecidos e racionais são não somente inúteis, mas eles fazem o jogo do poder".
Esse texto de Pasolini me fez pensar em como a questão da interrupção voluntária de gravidez e o debate que se faz hoje no Brasil, absolutamente bem-vindo e necessário, está também ligado à toda uma nova prática com o corpo e a forma como o corpo se tornou moldável, no seu exterior e no seu interior. Como ele se tornou imagem e cada vez menos orgânico.
(Ver entrevista com Paula Sibilia feita por Ilana Feldman)
Ser a favor da interrupção voluntária de gravidez e guardar um pensamento e uma ação crítica em relação ao futuro inorgânico do corpo é o desafio.
50 segundos de Cao Guimarães
Nanofania é um desses. Sublime.
Música do grupo O Grivo
Entrevista com Cao Guimarães na Revista Cinética
Rachel Reupke
O site Pico Mirador é um dos primeiros e mais bem humorados trabalhos da artista inglesa Rachel Reupke.
O humor é "lento". Se é que isso é possível.
Rachel apresentou há uma semana seus trabalhos no Beaubourg - Paris. A artista consegue de maneira muito singular se apropriar das estéticas das câmeras de vigilância e construir imagens de grande poesia e delicadeza com o acaso.
Acheiropoiete
Acheiropoiete - (não realizada pela mão humana)
Pois este blog é realizado pela mão humana e também por um mundo de outras coisas.
As palavras das pessoas em minha volta, seus gestos e cheiros, sons e arte, proximidades e distâncias.
O que não é feito pela mão humana também não quer dizer que é feito pela mão humana.
A mão humana é parte do que faz as coisas; apenas parte.
Ser de esquerda
Simondon II
Ainda no mesmo livro - A individuação física e coletiva.
"O problema individual só pode se resolver por construção, aumento de informação segundo um determinismo divergente, não por cálculo." (1958)
A traducão é um pouco capenga.
O que me parece brilhante e está ligado à linguagem é esta relação entre o indivíduo e os paradoxos que o formam. Ou melhor, os paradoxos por onde o indivíduo parece. "Determinismo divergente" é um desses maravilhosos paradoxos que tornam límpida a impossibilidade de falar de um indivíduo como algo fixo, parado. O desaparecimento do "ele é".
A revista Multitudes fez uma edição especial sobre Simondon em 2004
Noblat e o vice-presidente
Ricardo Noblat publica em seu Blog de hoje uma nota em que diz que o Vice-presidente fala muita bobagem
Ele termina a nota dizendo: cala a boca Alencar!
Esta frase é reveladora do lugar em que se encontram jornalistas como este e especialmente alguns ligados aos grandes meios como O Globo.
Fundamentalmente tratam todo e qualquer poder constituído como inimigo.
Cada palavra busca destruir e desmoralizar o poder que não sai própria mídia.
Mandar o Vice-Presidente calar a boca? Como pode?
Se fosse o contrário a primeira página do Globo seria dedicada à "Volta da Censura".
Que a mídia não seja o único poder.
Arte na escola
de Mira Schendel
Simondon
O livro do Simondon é bibliografia básica para quem tem interesse em qualquer arte que passe pela utilização de tecnologias específicas - mesmo a pintura.
Fundamental para quem tem interesse em pensar a arte e a política como modos de se construir a si próprio - ou se destruir .
Fundamental para quem pensa em ler Deleuze - ou já leu.
Simondon avança enormemente as questões de Deleuze e Guattari.