Recentemente coloquei um link no Twitter para a mais nova campanha da Diesel.
Link
A primeira vista, trata-se apenas de mais um caso de cinismo, típico do modo como o capitalismo se legitima hoje.
Ou seja, be stupid - como nós - não critique, não pense, não reflita nem mesmo sobre o fato de eu estar te chamando a ser estúpido.
Como temos visto, a falência da crítica, como chamou o Safatle, está ligada à forma como o enunciado capitalista já contém as possíveis críticas que podem ser feitas ao capitalismo ou ao consumo.
Seria estúpido aceitar a publicidade, comprar pelo valor da marca, participar do espetáculo fetichista do consumo; o público da Diesel sabe disso, logo: be Stupid.
Be stupid é o slogan que liberta para participar desse mundo Diesel sem culpa. Be stupid é Just do it bombado!
Mas ainda há mais.
O slogan é referido a outros valores. Por exemplo.
DIESEL- BE STUPID
"Are you doing something particularly stupid right now… like starting a band, building a tree house or creating art installation"
Ser estúpido é viver uma vida despojada, inventiva, criativa, guiada pelo coração e pelas utopias, pela experiências destemidas.
(veja os anúncios)
Ou seja, a Diesel entende que no mundo do qual ela participa, seria estúpido fazer coisas despropositadas, ligadas à arte, ao prazer desfuncionalizado, as empreitadas sem sentido. No capitalismo tradicional essas coisas não teriam lugar, seria estúpidas. Mas no mundo Disel não.
O que há como valor a ser capturado pelo Be stupid é profundamente ambíguo: por um lado, não pense no mundo em que essa marca te introduz, por outro, ao não pensar, viva a vida em sua plenitude. Aceitar o capitalismo em sua forma plena é um gesto contíguo - na lógica cínica- a aceitar a própria vida. Eis a lógica acabada do Biopoder contemporâneo que faz do que há de mais humano e vital - a criação, a experiência, a invenção de si e do outro - o seu mais importante valor.
A lógica cínica é o que faz com que esse texto não tenha sentido, uma vez que ele não tem como deixar mais explicita a estratégia da Diesel do que a própria Diesel. Para eles, qualquer tentativa de reflexão, como esta, é ser smart, logo negar a vida.
Um comentário:
Vi na revista Joyce Pascovitch um dos anúncios desta campanha onde uma moça levanta sua blusa, mostrando os peitos para uma câmera de vigilância.
Enfim, mais pano pra manga.
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