2 de ago. de 2010

Sarkozy, imigração e escola

Sarkozy fechou a semana fazendo uma discurso forte em relação a imigração.

A posição mais contestada é a de retirar a nacionalidade francesa “de quem não a merece”, um gesto que os franceses chamam de déchéance. Sarkozy pretende criar os sem-nacionalidade (Lula podia bem dizer que está disposto a recebê-los), uma vez que no próprio discurso ele reclama de franceses de terceira geração que até hoje não se integraram.

Uma seqüência de absurdos. Acabei de ler o discurso com um nó na garganta. Certo, sabemos quem é Sarkozy, mas há uma radicalização do discurso em direção à extrema direita que, independente das questões eleitorais francesas, faz eco com a história da Europa do século XX, de nazismos e fascismos, e que sempre assusta quando se faz presente, sobretudo em um político no poder. Não é por acaso que depois desse discurso vários comentaristas compararam a atual posição do presidente com o regime de Vichy.

No meio disso tudo, uma coisa me impressiona no discurso. Sarkozy dedica muito tempo falando da escola. Não apenas de macro-políticas de educação, mas do cotidiano e da sala de aula.

Me parece que há algo evidente ai. Com sabemos, a escola pública francesa é muito forte, apesar do enfraquecimento que vem sofrendo nos últimos anos, com crescentes saídas de alunos de elite das públicas em direção às privadas. Nesse ambiente das escolas públicas, o embate se evidencia. O que nas cidades está isolado, banlieu e centro, nas escolas não. Ali, professores e administradores tem que conviver com o país que existe hoje e não com o ideal francês da direita. Como é possível dizer que a terceira geração de imigrantes não se integrou? Eles são o país, queiram ou não! Pois é na escola, sobretudo nas que não estão em Paris, que imigrantes, filhos e netos, convivem com aqueles que Sarkozy diz que "merecem" ser franceses. O seja, o país está se jogando na escola.

Tenho a impressão que a França irá "resolver" o problema como o Brasil. Ou seja, isolar a pobreza na escola pública e evitar assim a politização da escola. O discurso do presidente francês é claro. O problema da escola é um problema de imigração.

Por um lado é tão lamentável que a França tenha no poder esse discurso, essa prática, por outro, a escola ali ainda é um lugar de luta, enquanto aqui é um lugar de exclusão.

Fora isso, impressiona a falta de disponibilidade para que a escola seja pensada dentro de outro formato. Como tão bem aparece no “Entre os muros da Escola”, o modelo disciplinar é falido para uma grande parte da população. O que significa isso? Sarkozy tem a resposta: a população está errada e no limite pode perder a nacionalidade e ser expulsa.

Um comentário:

carmosita senna disse...

http://www.youtube.com/watch?v=wfGr-Hk_R48

Oi Cezar, tive o prazer de conhecê-lo quando fiz um curta com a TV Brasil ano passado. Acompanho a pouco seus blogs, e acho que cabe essa canção, sobre a situação na França. Espero que goste.
té.