DG
A mãe do DG, o rapaz morto no Rio de Janeiro pela polícia militar, faz política ao se recusar falar com o governador Pezão.
Abrir o palácio para essa mãe, nesse momento, é produzir uma igualdade que permite a estabilidade da desigualdade.
Me explico. O gesto do governador de convidar a mãe em luto para uma conversa aponta para o desejo de marcar um lugar comum aos dois.
Pertencemos ao mesmo mundo, diria o governador, compartilhamos o mesmo luto, podemos conversar.
Mas, que igualdade é essa? A igualdade que interessa apenas o poder. A igualdade necessária para fazer a mãe ouvir, entender as palavras do governador e voltar para casa, para o mundo em que seu filho faz parte dos matáveis.
Pois a mãe diz: Não há igualdade entre nós. Não compartilhamos a mesma possibilidade de fala, não vou te ouvir nem vou fazer do diálogo um produtor de um consenso que mantém o absurdo dessa morte.
Negar um diálogo com o governador é a forma mais efetiva de produzir uma igualdade. É nesse gesto que a mãe expressa o poder que ainda tem sobre seu luto, sobre seus sentimentos, sobre o que a devasta.
Com o chefe dos que mataram, não há espaço de troca que não seja uma forma de apaziguar a desigualdade, de negar a política – o contrário da igualdade. Aceitar o convite seria uma forma de recolocar o governador em seu lugar de poder e a mãe no de vítima, mesmo que haja indignação, seria uma forma de reafirmar esses lugares.
O que a mãe faz é outra coisa. Ela afirma o seu poder e explicita a incapacidade do governador de exercer qualquer poder onde realmente importa – na polícia.
Quando ela decide não ir ao palácio, isso impede o governador de falar, de controlar a desigualdade. O governador experimenta a impossibilidade da fala, do controle, do poder. Mimetiza os matáveis. Não ir ao palácio é colocar o governador no lugar do matável. O pior não é ter o governador nesse lugar, o pior é esse ser um lugar existente no Rio.
A mãe do DG, o rapaz morto no Rio de Janeiro pela polícia militar, faz política ao se recusar falar com o governador Pezão.
Abrir o palácio para essa mãe, nesse momento, é produzir uma igualdade que permite a estabilidade da desigualdade.
Me explico. O gesto do governador de convidar a mãe em luto para uma conversa aponta para o desejo de marcar um lugar comum aos dois.
Pertencemos ao mesmo mundo, diria o governador, compartilhamos o mesmo luto, podemos conversar.
Mas, que igualdade é essa? A igualdade que interessa apenas o poder. A igualdade necessária para fazer a mãe ouvir, entender as palavras do governador e voltar para casa, para o mundo em que seu filho faz parte dos matáveis.
Pois a mãe diz: Não há igualdade entre nós. Não compartilhamos a mesma possibilidade de fala, não vou te ouvir nem vou fazer do diálogo um produtor de um consenso que mantém o absurdo dessa morte.
Negar um diálogo com o governador é a forma mais efetiva de produzir uma igualdade. É nesse gesto que a mãe expressa o poder que ainda tem sobre seu luto, sobre seus sentimentos, sobre o que a devasta.
Com o chefe dos que mataram, não há espaço de troca que não seja uma forma de apaziguar a desigualdade, de negar a política – o contrário da igualdade. Aceitar o convite seria uma forma de recolocar o governador em seu lugar de poder e a mãe no de vítima, mesmo que haja indignação, seria uma forma de reafirmar esses lugares.
O que a mãe faz é outra coisa. Ela afirma o seu poder e explicita a incapacidade do governador de exercer qualquer poder onde realmente importa – na polícia.
Quando ela decide não ir ao palácio, isso impede o governador de falar, de controlar a desigualdade. O governador experimenta a impossibilidade da fala, do controle, do poder. Mimetiza os matáveis. Não ir ao palácio é colocar o governador no lugar do matável. O pior não é ter o governador nesse lugar, o pior é esse ser um lugar existente no Rio.