19 de set. de 2014

Educador cineasta


Descobri recentemente um artigo do Whitehead, um filósofo inglês por quem o Deleuze tinha grande admiração e que o influenciou bastante, em que ele discute de maneira muito aberta algumas questões sobre educação.
Nessas questões há dois pontos que me ajudam a pensar o lugar do professor.
A primeira é uma citação cinematográfica que Whitehead traz logo no início do artigo: “Educar é fazer com que as ideias sejam utilizáveis ou entre em “combinações frescas”” Gosto muito dessa ideia de um educar que exige um processo de montagem – combinações frescas, novas. Como se educar nunca tivesse um fim em si, mas no que pode ser conectado, na abertura que é feita em que as ideias possam se conectar com outras coisas.
Me parece que essas conexões podem atuar em dois sentidos. Um primeiro que nos remete a Paulo Freire: quando falamos dos dispositivos móveis em sala de aula; de onde vem o chip? Quem fabrica? Como chega a energia? Quem ganha dinheiro?
Trata-se de uma conexão que forma um contexto, uma rede que constitui as condições de possibilidade para que aquele celular esteja ali.
Uma segunda que é mais esquiza, que não forma contexto, mas que entra em montagem criadora do que não existe. Conhecimento como ato de montagem entre elementos heterogêneos. Os dispositivos móveis passam a fazer arte, conectar manifestantes, estabelecer relações randômicas, etc.
Me parece que o Whitehead abre para essas duas dimensões das combinações em seu texto de 1932. Um conhecimento por montagem que produz contexto e potência.
Para que isso seja mais efetivo a aposta dele é curiosa; poucas ideias, muitas combinações.
O princípio é fortemente democrático. Enquanto o que ele chama de ideia é algo que se passa à criança, a combinação é a ação da criança, é o momento em que ela efetiva o conhecimento. Tal princípio em que a criança é criadora do conhecimento está longe de uma funcionalidade para o conhecimento, uma vez que pertence ao estudante os modos de mobilizar desejos, esperanças e sentimentos nas combinações que ele executa.
O problema da educação é manter o conhecimento vivo e uma das formas fundamentais de Whitehead para isso é o não isolamento dos saberes e a intensa atividade combinatória. Montagem.

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