As questões trazidas pelo assassinato do pessoal do Charlie Hebdo são
das mais importantes. Claro, todos condenaram os assassinatos, mas não
foram raros os casos em que uma certa responsabilidade foi colocada nos
cartunistas. “Eles estavam brincando com fogo, assim não dá.”
Poucos dias depois, no afã de uma resposta à sociedade – ou de simplesmente fazer valer seu poder – o governo francês prendeu o comediante Dieudonné, detestado por muitos por conta de suas piadas anti-semintas. A prisão de Dieudonné, entretanto, foi feita sob acusação de defesa do terrorismo depois de ele ter publicado em seu Facebook, "Je suis Charlie Coulibaly" em referência ao homem morto pela polícia após matar quatro pessoas em um supermercado.
Aqui, novamente, não há mas. Assim como as charges não podem justificar o que foi feito aos jornalistas do Charlie, essa frase não pode justificar a prisão do comediante. Qualquer defesa de terroristas é crime na França, qualquer fala que incite o ódio. Se está certo ou não, é outro problema, mas prender o comediante por essa frase só é possível por conta do seu histórico antissemita, Mas, a frase, em si, de forma alguma justificaria a prisão agora. Prende-lo por essa frase é perder a dimensão paradoxal e ficcional de frase. Se no campo da ficção há esse limite imposto pelo estado, seu autoritarismo se torna ainda mais grave. Metade dos diretores e produtores de filmes de ação americanos teriam que estar na prisão.
A ação do governo francês é mais uma forma de expor um poder desprovido de qualquer legitimidade, tipicamente imperialista.
Mas, o mais inquietante me parece ainda a forma com nesses momentos entregamos para o estado a autoridade sobre o que é correto e o que não é. A cada vez que dizemos que algo não deve ser publicado estamos dizendo que o estado deve ter poderes para punir quem expressa opiniões fora do quadro esperado. No meu caso, preferiria confiar nos leitores do que entregar para algum juiz o direito de dizer o que deve ou não ser publicado. Levar esse argumento ao limite requer uma sociedade bastante madura, exatamente aquilo que não interessa aos poderes que tem interesse em guardar o monopólio sobre o que deve ou não ser dito e escrito. O estado diz, não podemos deixar alguém defender o terrorismo, isso traria uma péssima influência para a sociedade. Com esse argumento, as universidade inglesas são “aconselhadas” a não receber oradores radicais, os governos investigam jornalistas, como expostos no Guardian de hoje, o monitoramento da correção se torna uma moeda de troca, os que refletem sobre blackblocks são monitorados, etc. Na Europa, o terrorismo tem sido enfrentado com mais e mais polícia, a mesma que proíbe rezas muçulmanas em público na França, torres de mesquitas na Suiça e constrangedores nacionalismo em tantos lugares. Minha pergunta, nesses casos, é: Chamar o juiz e a polícia é o melhor a se fazer quando o que o preconceituoso, o blasfemo ou negacionista escreve? É uma dúvida.
Poucos dias depois, no afã de uma resposta à sociedade – ou de simplesmente fazer valer seu poder – o governo francês prendeu o comediante Dieudonné, detestado por muitos por conta de suas piadas anti-semintas. A prisão de Dieudonné, entretanto, foi feita sob acusação de defesa do terrorismo depois de ele ter publicado em seu Facebook, "Je suis Charlie Coulibaly" em referência ao homem morto pela polícia após matar quatro pessoas em um supermercado.
Aqui, novamente, não há mas. Assim como as charges não podem justificar o que foi feito aos jornalistas do Charlie, essa frase não pode justificar a prisão do comediante. Qualquer defesa de terroristas é crime na França, qualquer fala que incite o ódio. Se está certo ou não, é outro problema, mas prender o comediante por essa frase só é possível por conta do seu histórico antissemita, Mas, a frase, em si, de forma alguma justificaria a prisão agora. Prende-lo por essa frase é perder a dimensão paradoxal e ficcional de frase. Se no campo da ficção há esse limite imposto pelo estado, seu autoritarismo se torna ainda mais grave. Metade dos diretores e produtores de filmes de ação americanos teriam que estar na prisão.
A ação do governo francês é mais uma forma de expor um poder desprovido de qualquer legitimidade, tipicamente imperialista.
Mas, o mais inquietante me parece ainda a forma com nesses momentos entregamos para o estado a autoridade sobre o que é correto e o que não é. A cada vez que dizemos que algo não deve ser publicado estamos dizendo que o estado deve ter poderes para punir quem expressa opiniões fora do quadro esperado. No meu caso, preferiria confiar nos leitores do que entregar para algum juiz o direito de dizer o que deve ou não ser publicado. Levar esse argumento ao limite requer uma sociedade bastante madura, exatamente aquilo que não interessa aos poderes que tem interesse em guardar o monopólio sobre o que deve ou não ser dito e escrito. O estado diz, não podemos deixar alguém defender o terrorismo, isso traria uma péssima influência para a sociedade. Com esse argumento, as universidade inglesas são “aconselhadas” a não receber oradores radicais, os governos investigam jornalistas, como expostos no Guardian de hoje, o monitoramento da correção se torna uma moeda de troca, os que refletem sobre blackblocks são monitorados, etc. Na Europa, o terrorismo tem sido enfrentado com mais e mais polícia, a mesma que proíbe rezas muçulmanas em público na França, torres de mesquitas na Suiça e constrangedores nacionalismo em tantos lugares. Minha pergunta, nesses casos, é: Chamar o juiz e a polícia é o melhor a se fazer quando o que o preconceituoso, o blasfemo ou negacionista escreve? É uma dúvida.
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