21 de jun. de 2008

Filmar o outro é confrontar a minha mise en scène com a do outro”, escreveu Comolli

No livro do francês Clément Rosset, "Propos sur le Cinéma", ele faz considerações sobre o cinema: "A imaginação delirante pretende mudar o mundo, a imaginação "normal" pretende mudar a cena."

A idéia é boa.

me fez pensar na questão da política como cena - criticado por Antonio Negri, por exemplo - que trabalhei em um artigo na Revista Cinética.

Para Rancière, toda atividade política é um conflito para dizer o que é palavra e o que é grito, o que é parte de um comum e o que pode ser apenas separado dele. Recortes que constituem a própria dimensão estética da política.

[Um] recorte dos tempos e dos espaços, do visível e do invisível, da palavra e do grito que define ao mesmo tempo o lugar e o que está em jogo na política como forma de experiência. A política ocupa-se do que se vê e do que se pode dizer sobre o que é visto, de quem tem a competência para dizer sobre o que é visto, de quem têm competência para ver e qualidade para dizer, das propriedades do espaço e dos possíveis do tempo

Esta composição entre visibilidades e dizíveis é o que produz a política como cena para Rancière, tendo o teatro como modelo. O crítico e cineasta francês Jean-Louis Comolli, ao pensar as subjetivações e o universo do documentário, faz uso de uma metáfora teatral também. Para Comolli, os indivíduos estão constantemente passando de uma mise en scène a uma outra. Articulando várias mise en scène ele constitui a sua própria. “Filmar o outro é confrontar a minha mise en scène com a do outro”, escreveu Comolli. (continua)

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