18 de jun. de 2008

Tonacci em Ouro Preto

Belo depoimento do Andréa Tonacci que o Cléber Eduardo colocou na lista da Revista Cinética.

Essa energia, esse tempo de produção, está no Serras da Desordem.
Mas, não é o grito e a expressão da urgência e do desejo apenas que aparece em Serras da Desordem, mas o milimétricamente pensado, o desenho lógico e detalhista.


"Não sou historiador, não olho tanto pra trás pra tentar entender o papel que a gente teve fazendo filmes, mas o que eu sentia... Se existe uma coisa que eu posso dizer hoje, que eu sinto ao olhar pra trás, é que quando a gente fazia cinema naquela época, não fazia porque tinha um projeto, 'eu vou fazer um filme porque tenho um projeto, vou realizar um projeto'. Aquilo era mais um caminho de vida, realmente uma tentativa de intervenção na realidade. Eu acho que se fazia cinema pra mudar o mundo e não pra ganhar dinheiro, ou pra ocupar mercado, ou coisas nesse sentido. Era um cinema que nascia da raiva, de uma dimensão de mundo que estava em volta que era totalmente opressiva, vivíamos uma época de ditadura militar no Brasil e de revolução no mundo inteiro, revoluções opostas às vezes, mas num sentido de libertarismo na França que levava, inclusive, à destruição do conceito de 'cultura' como um processo de acúmulo, como um processo de ego, um processo de poder de História e esse tipo de coisa. Eu vejo Rogério e Glauber hoje, ao longe, como dois gêmeos. De idades diferentes, filhos de mães diferentes, mas por um acaso gêmeos no mundo, gêmeos neste momento de intervenção e consciência do que significava um processo de intervenção na realidade através da imagem. Esse poder a gente vê quando assiste a Deus e o Diabo, e sabemos ali o que é a cultura visual de um homem, e vemos em Rogério o que é a cultura de um outro homem, uma outra concepção cinematográfica, digamos."

"Em 66, quando fomos ao Rio, no Festival JB, eu acredito que já ali ficou claro que existia um outro grupo de pessoas, o Julio, o Neville, os mineiros, Geraldo Veloso, Marcinho Borges, e você percebia que existia algo de estômago, alguma coisa de mal-estar ali. Eram mais gritos do que filmes, eram mais expressões de angústia e de compulsão, de obsessão, do que realmente projetos feitos para passar em festival, ou tal história bonitinha e conveniente que cai bem aqui. Nisso existe uma diferença radical com o que se vê no cinema brasileiro de hoje."

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