Nem o PT seria capaz de elogio tão contundente e sutil ao governo Lula.
O Brasil pode mais!
A campanha da Globo, retirada do ar, é inacreditável.
(link)
Foi ao ar na mesma semana que Serra colocava o seu slogan na rua.
(link)
As duas com o mesmo slogan que reverencia o atual governo.
As más linguas dizem que era uma estratégia da Globo para fazer campanha para o Serra, mas não é não. É pior.
Entre as pessoas da Globo e do Serra não há distância, elas estão nos mesmos restaurantes, nos mesmos sites, no mesmos cafezinhos depois da reunião. Trata-se de uma só galera.
- O que o Serra vai dizer?
- Pois é? Robada né?
- Só dá pra dizer que vai manter.
- O bolsa Família, o PAC, etc.
- Robada né?
- Cada coisa que fala que vai mudar perde voto!
- O negócio é que dá pra fazer mais coisa.
- Isso é verdade
- Ainda tem pobre né?
- Dá pra vender a Petrobrás, essas coisas...
- Pois é... No Brasil ainda tem coisa pra fazer.
- O Brasil pode mais né?
- Pode sim.
- Falou, deixa eu ir que o pessoal tá me esperando.
- Dupla ou simples?
- Dupla, com essa minha barriga a quadra tá ficando grande.
- Abração
- Outro
30 de abr. de 2010
24 de abr. de 2010
Cineastas e Imagens do Povo, no CCBB
Enorme prazer de ver hoje no CCBB alguns filmes da mostra Cineastas e Imagens do Povo.
Aruanda, é um filme lindo. Com todas as questões, mas ali está o chão seco, o homem, o barro.
Me basta.
A Pedra do Reino, a mesma coisa. A voz do garimpeiro, a mão da criança na pá. Está tudo ali.
Não é possível julgarmos os filmes por conta de um gesto, de uma voz off e esquecer que as imagens estão ali, nos afetando.
Brasília segundo Feldman, Essas imagens existirem já seria o suficiente. Está tudo ali. A voz se esvanece com o tempo, as denúncias se dissolvem na magia de um país que se esboça nas imagens. O encanto e o desastre de Brasília estão absolutamente presentes.
Congo, ora, que filme infinito.
Lavra-dor, inventivo, forte.
Com todos esses filmes, Bernardet, os realizadores e agora os curadores dessa mostra, mais que fazer cinema, estão inventando um país, gostemos dele ou não, há uma invenção ali. Memória viva e pulsante dos últimos 40 anos. Ver e presenciar essa invenção em uma sala de cinema é inesquecível.
Aruanda, é um filme lindo. Com todas as questões, mas ali está o chão seco, o homem, o barro.
Me basta.
A Pedra do Reino, a mesma coisa. A voz do garimpeiro, a mão da criança na pá. Está tudo ali.
Não é possível julgarmos os filmes por conta de um gesto, de uma voz off e esquecer que as imagens estão ali, nos afetando.
Brasília segundo Feldman, Essas imagens existirem já seria o suficiente. Está tudo ali. A voz se esvanece com o tempo, as denúncias se dissolvem na magia de um país que se esboça nas imagens. O encanto e o desastre de Brasília estão absolutamente presentes.
Congo, ora, que filme infinito.
Lavra-dor, inventivo, forte.
Com todos esses filmes, Bernardet, os realizadores e agora os curadores dessa mostra, mais que fazer cinema, estão inventando um país, gostemos dele ou não, há uma invenção ali. Memória viva e pulsante dos últimos 40 anos. Ver e presenciar essa invenção em uma sala de cinema é inesquecível.
Marco Aurélio Mello "A ditadura foi um mal necessário"
Continuando o Post anterior.:
Se Piñera ainda tem esse prestígio, no Brasil a falta de uma Comissão da Verdade sobre o regime militar, como propõe o Plano Nacional dos Direitos Humanos 3, é o que permite que Marco Aurélio Mello, Ministro do Supremo nomeado pelo primo, Fernando Collor, diga que a ditadura militar foi um mal necessário. (http://www.redetv.com.br/portal/Video.aspx?113,24,89352,Jornalismo,E-Noticia,Marco-Aurelio-Mello-Bloco-3 - Aos 15min.)
Isso não é uma opinião que um ministro possa dar em público. É um insulto.
Se o argumento de Mello é que havia um perigo que se avizinhava, o forjado perigo comunista que tanto interessava os golpistas, mesmo argumento utilizado por Pinochet, então todas as ditaduras latino-americanas foram um mal necessário.
Mas o que, exatamente, foi um mal necessário?
Os mais de 100 mil torturados no Cone Sul?
Os 30 mil mortos na Argentina e destruição de uma geração?
A produção de países com extrema desigualdade social?
A OBAN e a participação de empresários no financiamento da repressão?
A lista de horrores seria bem extensa.
Depois de dizer isso, Mello volta para o supremo para julgar as mais importantes questões do país.
Se Piñera ainda tem esse prestígio, no Brasil a falta de uma Comissão da Verdade sobre o regime militar, como propõe o Plano Nacional dos Direitos Humanos 3, é o que permite que Marco Aurélio Mello, Ministro do Supremo nomeado pelo primo, Fernando Collor, diga que a ditadura militar foi um mal necessário. (http://www.redetv.com.br/portal/Video.aspx?113,24,89352,Jornalismo,E-Noticia,Marco-Aurelio-Mello-Bloco-3 - Aos 15min.)
Isso não é uma opinião que um ministro possa dar em público. É um insulto.
Se o argumento de Mello é que havia um perigo que se avizinhava, o forjado perigo comunista que tanto interessava os golpistas, mesmo argumento utilizado por Pinochet, então todas as ditaduras latino-americanas foram um mal necessário.
Mas o que, exatamente, foi um mal necessário?
Os mais de 100 mil torturados no Cone Sul?
Os 30 mil mortos na Argentina e destruição de uma geração?
A produção de países com extrema desigualdade social?
A OBAN e a participação de empresários no financiamento da repressão?
A lista de horrores seria bem extensa.
Depois de dizer isso, Mello volta para o supremo para julgar as mais importantes questões do país.
23 de abr. de 2010
José Piñera, o Chicago Boy em ação.
Em A Doutrina do Choque, Naomi Klein dedica uma parte importante de sua pesquisa ao Chile.
Nos anos 70, com o golpe contra Allende, o Chile se transforma em um país-teste para o liberalismo econômico radical, intelectualmente organizado por Milton Friedman e operado no Chile pelos Chicago Boys.
Os Chicago Boys era um grupo de jovens estudantes chilenos que nos anos 60 frequentam a Universidade de Chicago e são treinados para o liberalismo a la Friedman. Depois do golpe no Chile, eles são os principais responsáveis pela economia chilena.
Um dos Chicago Boys, até hoje orgulhoso com o título, era José Piñera. Formado em Chicago e Harvard.
Piñera foi responsável pela privatização da previdência social. Personagem importante no governo Pinochet.
Governo que nos 17 anos em que ficou no poder realizou coisas como:
Desmembrou as escolas públicas
Encontrou a hiperinflação e o desemprego de 30% da população em 1982.
Colocou em 1988 mais de 40 % da população abaixo da linha de pobreza.
Aumentou em 83% a renda dos 10% mais ricos.
Em 2007 o Chile estava entre os 10 países com a maior desigualdade do mundo.
A situação não foi pior porque Pinochet não privatizou a Codelco, estatizada por Allende e responsável por 85% das exportações chilenas.
Bem, pois apesar de ter sido peça importante nessa história de violência e aberrações sociais, Piñera ainda está no ar.
Para minha surpresa, cruzei com uma entrevista com ela feita pela Fox News. Piñera é tratado como um expert bem sucedido quando o assunto é previdência. Na Fox, ele diz o que os EUA tem que fazer. É simples; cada um paga 10% do que ganha, o governo não pode mexer nisso e no final da ele recebe o que economizou. Privatiza-se tudo. Em uma sociedade desigual, o estado simplesmente reforça a desigualdade.
Esse personagem ainda fazer parte do debate, é triste. Suas idéias pautarem a oposição ao governo Obama, é risível.
Nos anos 70, com o golpe contra Allende, o Chile se transforma em um país-teste para o liberalismo econômico radical, intelectualmente organizado por Milton Friedman e operado no Chile pelos Chicago Boys.
Os Chicago Boys era um grupo de jovens estudantes chilenos que nos anos 60 frequentam a Universidade de Chicago e são treinados para o liberalismo a la Friedman. Depois do golpe no Chile, eles são os principais responsáveis pela economia chilena.
Um dos Chicago Boys, até hoje orgulhoso com o título, era José Piñera. Formado em Chicago e Harvard.
Piñera foi responsável pela privatização da previdência social. Personagem importante no governo Pinochet.
Governo que nos 17 anos em que ficou no poder realizou coisas como:
Desmembrou as escolas públicas
Encontrou a hiperinflação e o desemprego de 30% da população em 1982.
Colocou em 1988 mais de 40 % da população abaixo da linha de pobreza.
Aumentou em 83% a renda dos 10% mais ricos.
Em 2007 o Chile estava entre os 10 países com a maior desigualdade do mundo.
A situação não foi pior porque Pinochet não privatizou a Codelco, estatizada por Allende e responsável por 85% das exportações chilenas.
Bem, pois apesar de ter sido peça importante nessa história de violência e aberrações sociais, Piñera ainda está no ar.
Para minha surpresa, cruzei com uma entrevista com ela feita pela Fox News. Piñera é tratado como um expert bem sucedido quando o assunto é previdência. Na Fox, ele diz o que os EUA tem que fazer. É simples; cada um paga 10% do que ganha, o governo não pode mexer nisso e no final da ele recebe o que economizou. Privatiza-se tudo. Em uma sociedade desigual, o estado simplesmente reforça a desigualdade.
Esse personagem ainda fazer parte do debate, é triste. Suas idéias pautarem a oposição ao governo Obama, é risível.
22 de abr. de 2010
O Globo vê coisas
Ibope: Serra amplia vantagem sobre Dilma
sem que nenhum dos dois candidatos tenham saído da margem de erro da pesquisa - Serra de 35% para 36% e Dilma de 30 para 29% - o jornal consegue fazer a manchete acima.
é baixo!
19 de abr. de 2010
Eu-empresa 1 - com Carlos Hilsdorf
As estéticas e discursos produzidas pelo mundo das empresas, o mundo corporativo, são altamente reveladoras de um desejo de mundo que abarca muito mais que as empresas. Como diz o consultor (de empresas e muito mais) Carlos Hilsdorf nessa entrevista para a CBN: "se nós aplicássemos as ferramentas de gestão a nós mesmo, seríamos um "ser humano-empresa" melhor. O ser humano-empresa deve perceber onde estão suas forças, fraquezas, riscos e oportunidades".
Genial. Definitivamente não é através de um mergulho interior, uma reflexão introdirigida que o sujeito se fará melhor para si e para o mundo. Não é esse homo-psychologicus que constrói e é construído pela corporação. Mas, também não se trata se um sujeito que se constrói ao se narrar, que vive uma certa liberdade fluida pós-moderna. A narrativa aqui não é da ordem da organização e filtragem da memória e da história pessoal em que se mescla vivências e experiências públicas e privadas.
O ser-humano empresa é de outra ordem. Claro, ele é alter-dirigido. Deve ser construído para o outro, mas para escolher esse outro - uma espécie de público alvo - há de se ter talento. Uma vez escolhido o público alvo do eu inicia-se um processo de gestão que pode ser dividido em dois momentos. Aquele em que se avalia as forças e fraquezas. Não interessa qualquer força ou qualquer fraqueza, essa avaliação é um princípio de gestão e não um princípio de vida, por mais que as duas se confundam. Logo, nenhuma avaliação pode ser uma questão de princípio mas de aplicação. Por exemplo, um sujeito caseiro, dedicado à família e à poucos amigos, isso pode ser uma característica não qualificável como força ou fraqueza, mas uma vez que a ordem de organização do eu é a via da gestão, essas características devem, certamente, ser revistas. Falta a esse eu-caseiro uma maior sociabilidade, assim como um maior potencial em abrir uma maior "carteira de relações".
O eu-empresa opera na absoluta funcionalização de todas as caracteríticas do humano.
Depois de avaliada as forças e fraquezas o eu-empresa pode entrar em ação. Ver o mundo como risco ou oportunidade. Certamente que estes dois pólos são aplicáveis a tudo. Do jogo de tênis com os amigos (quais amigos?) às operações com o cartão de crédito. No meio disso, certamente, o trabalho e o auto-conhecimento.
Como nos diz Carlos Hilsdorf, "o auto-conhecimento é um coisa estratégica".
Quando comentamos que no mundo contemporâneo a distinção entre vida e trabalho se tornou bastante fluida. O eu-empresa nos apresenta a fórmula acabada desse sujeito contemporâneo.
Genial. Definitivamente não é através de um mergulho interior, uma reflexão introdirigida que o sujeito se fará melhor para si e para o mundo. Não é esse homo-psychologicus que constrói e é construído pela corporação. Mas, também não se trata se um sujeito que se constrói ao se narrar, que vive uma certa liberdade fluida pós-moderna. A narrativa aqui não é da ordem da organização e filtragem da memória e da história pessoal em que se mescla vivências e experiências públicas e privadas.
O ser-humano empresa é de outra ordem. Claro, ele é alter-dirigido. Deve ser construído para o outro, mas para escolher esse outro - uma espécie de público alvo - há de se ter talento. Uma vez escolhido o público alvo do eu inicia-se um processo de gestão que pode ser dividido em dois momentos. Aquele em que se avalia as forças e fraquezas. Não interessa qualquer força ou qualquer fraqueza, essa avaliação é um princípio de gestão e não um princípio de vida, por mais que as duas se confundam. Logo, nenhuma avaliação pode ser uma questão de princípio mas de aplicação. Por exemplo, um sujeito caseiro, dedicado à família e à poucos amigos, isso pode ser uma característica não qualificável como força ou fraqueza, mas uma vez que a ordem de organização do eu é a via da gestão, essas características devem, certamente, ser revistas. Falta a esse eu-caseiro uma maior sociabilidade, assim como um maior potencial em abrir uma maior "carteira de relações".
O eu-empresa opera na absoluta funcionalização de todas as caracteríticas do humano.
Depois de avaliada as forças e fraquezas o eu-empresa pode entrar em ação. Ver o mundo como risco ou oportunidade. Certamente que estes dois pólos são aplicáveis a tudo. Do jogo de tênis com os amigos (quais amigos?) às operações com o cartão de crédito. No meio disso, certamente, o trabalho e o auto-conhecimento.
Como nos diz Carlos Hilsdorf, "o auto-conhecimento é um coisa estratégica".
Quando comentamos que no mundo contemporâneo a distinção entre vida e trabalho se tornou bastante fluida. O eu-empresa nos apresenta a fórmula acabada desse sujeito contemporâneo.
18 de abr. de 2010
Goldman Sachs entre o público e o privado.
Robert Zhurami é o principal agente da SEC Securities and Exchange Commission - agencia reguladora do governo americano- envolvido na investigação contra o Banco de Investimentos Goldman Sachs.
Durante 5 anos Zhurami foi "general counsel of the America" para o Deutsche Bank, até 2009.
Hoje, repercutindo o NYT e a Welt am Sonntag, o Globo faz uma matéria dizendo que o governo alemão está entre os que avaliam ir a justiça contra o GS.
Uma certa permissividade entre o público e o privado não é exclusividade latina, muito pelo contrário.
Detalhe, segundo o site Who runs Gov: Khuzami donated $4,300 in 2007, including $2,300 to Sen. John McCain (R-Ariz) . Ai!
Durante 5 anos Zhurami foi "general counsel of the America" para o Deutsche Bank, até 2009.
Hoje, repercutindo o NYT e a Welt am Sonntag, o Globo faz uma matéria dizendo que o governo alemão está entre os que avaliam ir a justiça contra o GS.
Uma certa permissividade entre o público e o privado não é exclusividade latina, muito pelo contrário.
Detalhe, segundo o site Who runs Gov: Khuzami donated $4,300 in 2007, including $2,300 to Sen. John McCain (R-Ariz) . Ai!
17 de abr. de 2010
Entrevista de Sérgio Besserman para a Veja
Sérgio Besserman tornou-se um especialista em Rio de Janeiro.
Como bom especialista ele circula entre o Jornal da Dez, na Globo News, a CBN e as páginas da Veja.
Constrói-se o espaço para o explicador da cidade.
Como bem desejam esses meios, os problemas da cidade são todos colocados na ordem da administração e qualquer reflexão de fundo, que exija pensar o modelo de desenvolvimento, baseado nos carros, na especulação e esquadrinhamento da cidade, na falta de reserva do solo para moradias populares, na elitização dos espaços de consumo, etc, não é questão.
Na entrevista da Veja SB explica o problema das favelas a partir de dois pilares.
1 - Falta racionalidade
2 - O estado é incompetente.
Claro que junto de seu discurso vem a acusação a todos aqueles que podem eventualmente serem críticos. Estes estão contaminados pelos "vícios populistas" que são produtores de favelas.
Mas, mesmo correndo o risco de ser "populista", entendo que a posição de SB, merece algumas considerações.
Primeiramente não é possível falar em remoção de favelas sem falar na organização urbana como um todo. O privilégio que certas áreas tem em relação a outras; no funcionamento dos transportes, nas ofertas de cultura, na organização imobiliária, na coleta de lixo, na existência de escolas e hospitais, etc, será sempre parte da existência das favelas.
Nesse sentido, não existe a possibilidade, fora de um certo cinismo elitista, de se falar de remoção de favelas sem que a cidade como um todo seja colocada em questão.
Ninguém mora em área de risco porque quer, mas porque avaliou os riscos e ali significa o menor deles. O risco de ficar longe de um hospital ou longe de uma escola para os filhos é parte do que leva uma família para uma favela.
Quando se fala que há uma população que vive em uma área de risco, devemos perguntar: mas de qual risco ela está se livrando fazendo essa opção?
Certo, não desejamos favelas, nem os moradores das favelas as desejam. Mas falar que elas são fruto do populismo deste ou daquele governante é esquecer que em TODAS as grandes cidades do Brasil e da América do Sul existe uma massa de pessoas vivendo em condições precárias e, claro, esses lugares se sustentam entre a desobediência civil e a ilegalidade. Tal ordem - ou desordem urbana - é parte de um modelo de desenvolvimento, em relação a isso, o Rio não tem nenhum privilégio. Caracas, Buenos Aires, Recife, para começar a lista com nomes bonitos.
Talvez a fala mais chocante de SB seja essa:
"as áreas favelizadas provocam uma acentuada degradação da paisagem da cidade, um ativo cujo valor é incalculável. Portanto, quando uma análise de custo-benefício revelar que a realocação de uma favela trará retorno financeiro e social elevado, por que razões não cogitar sua remoção?"
Primeiro porque tão degradante para a paisagem da cidade é um prédio como os que cercam a lagoa Rodrigo de Freitas, mas esse seria o menor dos problemas. O maior problema é pautar a ordem urbana pela valorização da paisagem e não por princípios democráticos. O que não significa que cada um pode ficar onde quiser, mas pensar qual a cidade mais inclusiva em termos de bem estar, circulação, acesso a serviços e bens? Certamente que o discurso da remoção baseada na valorização da paisagem não responde a esses princípios democráticos.
A fala do Besserman se instala em um discurso que parte de premissas corretas para tirar conclusões elitistas. Sim, as favelas são um problema, sim, existe ali um forte potencial para a ilegalidade e o estado é frequentemente conivente. Entretanto, a remoção sem uma reorganização e uma democratização urbana é de um simplismo primário.
As favelas são ruins, logo é preciso removê-las - eis a lógica que mantém as cidades como estão e se joga para longe aqueles que estão atrapalhando.
Como bom especialista ele circula entre o Jornal da Dez, na Globo News, a CBN e as páginas da Veja.
Constrói-se o espaço para o explicador da cidade.
Como bem desejam esses meios, os problemas da cidade são todos colocados na ordem da administração e qualquer reflexão de fundo, que exija pensar o modelo de desenvolvimento, baseado nos carros, na especulação e esquadrinhamento da cidade, na falta de reserva do solo para moradias populares, na elitização dos espaços de consumo, etc, não é questão.
Na entrevista da Veja SB explica o problema das favelas a partir de dois pilares.
1 - Falta racionalidade
2 - O estado é incompetente.
Claro que junto de seu discurso vem a acusação a todos aqueles que podem eventualmente serem críticos. Estes estão contaminados pelos "vícios populistas" que são produtores de favelas.
Mas, mesmo correndo o risco de ser "populista", entendo que a posição de SB, merece algumas considerações.
Primeiramente não é possível falar em remoção de favelas sem falar na organização urbana como um todo. O privilégio que certas áreas tem em relação a outras; no funcionamento dos transportes, nas ofertas de cultura, na organização imobiliária, na coleta de lixo, na existência de escolas e hospitais, etc, será sempre parte da existência das favelas.
Nesse sentido, não existe a possibilidade, fora de um certo cinismo elitista, de se falar de remoção de favelas sem que a cidade como um todo seja colocada em questão.
Ninguém mora em área de risco porque quer, mas porque avaliou os riscos e ali significa o menor deles. O risco de ficar longe de um hospital ou longe de uma escola para os filhos é parte do que leva uma família para uma favela.
Quando se fala que há uma população que vive em uma área de risco, devemos perguntar: mas de qual risco ela está se livrando fazendo essa opção?
Certo, não desejamos favelas, nem os moradores das favelas as desejam. Mas falar que elas são fruto do populismo deste ou daquele governante é esquecer que em TODAS as grandes cidades do Brasil e da América do Sul existe uma massa de pessoas vivendo em condições precárias e, claro, esses lugares se sustentam entre a desobediência civil e a ilegalidade. Tal ordem - ou desordem urbana - é parte de um modelo de desenvolvimento, em relação a isso, o Rio não tem nenhum privilégio. Caracas, Buenos Aires, Recife, para começar a lista com nomes bonitos.
Talvez a fala mais chocante de SB seja essa:
"as áreas favelizadas provocam uma acentuada degradação da paisagem da cidade, um ativo cujo valor é incalculável. Portanto, quando uma análise de custo-benefício revelar que a realocação de uma favela trará retorno financeiro e social elevado, por que razões não cogitar sua remoção?"
Primeiro porque tão degradante para a paisagem da cidade é um prédio como os que cercam a lagoa Rodrigo de Freitas, mas esse seria o menor dos problemas. O maior problema é pautar a ordem urbana pela valorização da paisagem e não por princípios democráticos. O que não significa que cada um pode ficar onde quiser, mas pensar qual a cidade mais inclusiva em termos de bem estar, circulação, acesso a serviços e bens? Certamente que o discurso da remoção baseada na valorização da paisagem não responde a esses princípios democráticos.
A fala do Besserman se instala em um discurso que parte de premissas corretas para tirar conclusões elitistas. Sim, as favelas são um problema, sim, existe ali um forte potencial para a ilegalidade e o estado é frequentemente conivente. Entretanto, a remoção sem uma reorganização e uma democratização urbana é de um simplismo primário.
As favelas são ruins, logo é preciso removê-las - eis a lógica que mantém as cidades como estão e se joga para longe aqueles que estão atrapalhando.
CQC, Barueri e o desejo de corrupção
Realmente, a matéria do CQC em Barueri é espetacular.
Como sabemos, espetacular não quer dizer que ela é boa, mas que nos mobiliza em sua dimesão excesiva.
É difícil não tirar grande prazer em ver corruptos e autoridades concentradas em suas auto-promoções sendo expostos ao ridículo.
Mas, se o programa nos dá toda essa satisfação é bom desconfiar.
Primeiramente, a TV assume um papel que faz com que o entretenimento ande junto do papel de polícia. Tal prática é corriqueira em programas populares que não só fazem as vezes da polícia mas também do juiz e do carrasco.
Investigar, julgar e penalizar são ações contíguas a uma mesma emissão, tudo isso com o ritmo do espetáculo, com a música bem escolhida, com a ironia e a precisão do humor dos rapazes do CQC.
Pois, o primeiro estranhamento diz respeito então a esse papel da TV.
É essa a televisão que queremos e que nos mobiliza? Policial e vingativa, fazendo justiça com as própria mãos. Note que este questionamento deve ser feito antes de a TV ter escolhido a causa - a corrupção, um assassino, um artista excentrico, não interessa.
Unir essa lógica da política com a do sistema de julgamento e punição é que me parece especialmente grave, não apenas por que entregamos para uma emissora privada o direito de escolher que investigação fazer e como julgar, mas, também, porque deixamos que a lógica do espetáculo tenha primazia sobre a lógica da justiça.
Podemos perceber bem no caso do CQC em Barueri o funcionamento que subsume o justo ao espetacular.
Antes de tudo, para o CQC, a corrupção é desejada.
Tudo começa com uma televisão de plasma de 32 polegadas. Há um abuso de poder econômico ai. Nas escolas públicas não há espaço simbólico para essa televisão. O que é o sonho de consumo privado o CQC leva para o espaço público, para escolas que lidam com outras carências, outros "sonhos".
O CQC, antes de documentar a corrupção é o corruptor. Claro que nada justifica o roubo que a funcionária da prefeitura faz, mas ao doar uma TV desse tipo para uma escola, o programa da Bandeirantes e seus anunciantes tratam o estado como o inimigo que deve ser humilhado em sua pobreza e fragilidade.
O CQC escolhe ainda um período sem aulas para a doação.
Por todos os lados o CQC vai se garantindo, feliz por garantir o espetáculo, com a certeza de estar do lado certo, contente por corrigir a sociedade.
Como sabemos, espetacular não quer dizer que ela é boa, mas que nos mobiliza em sua dimesão excesiva.
É difícil não tirar grande prazer em ver corruptos e autoridades concentradas em suas auto-promoções sendo expostos ao ridículo.
Mas, se o programa nos dá toda essa satisfação é bom desconfiar.
Primeiramente, a TV assume um papel que faz com que o entretenimento ande junto do papel de polícia. Tal prática é corriqueira em programas populares que não só fazem as vezes da polícia mas também do juiz e do carrasco.
Investigar, julgar e penalizar são ações contíguas a uma mesma emissão, tudo isso com o ritmo do espetáculo, com a música bem escolhida, com a ironia e a precisão do humor dos rapazes do CQC.
Pois, o primeiro estranhamento diz respeito então a esse papel da TV.
É essa a televisão que queremos e que nos mobiliza? Policial e vingativa, fazendo justiça com as própria mãos. Note que este questionamento deve ser feito antes de a TV ter escolhido a causa - a corrupção, um assassino, um artista excentrico, não interessa.
Unir essa lógica da política com a do sistema de julgamento e punição é que me parece especialmente grave, não apenas por que entregamos para uma emissora privada o direito de escolher que investigação fazer e como julgar, mas, também, porque deixamos que a lógica do espetáculo tenha primazia sobre a lógica da justiça.
Podemos perceber bem no caso do CQC em Barueri o funcionamento que subsume o justo ao espetacular.
Antes de tudo, para o CQC, a corrupção é desejada.
Tudo começa com uma televisão de plasma de 32 polegadas. Há um abuso de poder econômico ai. Nas escolas públicas não há espaço simbólico para essa televisão. O que é o sonho de consumo privado o CQC leva para o espaço público, para escolas que lidam com outras carências, outros "sonhos".
O CQC, antes de documentar a corrupção é o corruptor. Claro que nada justifica o roubo que a funcionária da prefeitura faz, mas ao doar uma TV desse tipo para uma escola, o programa da Bandeirantes e seus anunciantes tratam o estado como o inimigo que deve ser humilhado em sua pobreza e fragilidade.
O CQC escolhe ainda um período sem aulas para a doação.
Por todos os lados o CQC vai se garantindo, feliz por garantir o espetáculo, com a certeza de estar do lado certo, contente por corrigir a sociedade.
Doutrina do Choque, de Naomi Klein.
Leio com grande interesse a Doutrina do Choque, de Naomi Klein.
Jornalismo americano engajado em demonstrar como o neoliberalismo dos últimos 30 anos dependeu de guerras, desastres naturais e políticos e muita tortura para poder implementar suas práticas. De Pinochet ao Iraque, passando pelo Katrina e o 11 de setembro, a autora constrói um quadro cheio de exemplos e ao mesmo tempo investigativo.
O primeiro capítulo do livro é dedicado a uma longa história que relaciona o estado americano e a tortura como método.
Voltarei ao livro.
Um dado: antes do furacão Katrina, New Orleans possui 123 escolas públicas, agora são 4.
Não para de pensar na remoção das casas do Alemão anunciadas na semana que as chuvas causaram tamanho estrago na cidade.
Para baixar o livro A doutrina do Choque, Naomi Klein: http://migre.me/xbtD (em inglês) - em Português lançado pela Nova Fronteira (o livro, instigante e de fácil leitura custa quase 80 reais. Esses editores... Ou estão boicotando ou são muito incopetentes mesmo.)
Jornalismo americano engajado em demonstrar como o neoliberalismo dos últimos 30 anos dependeu de guerras, desastres naturais e políticos e muita tortura para poder implementar suas práticas. De Pinochet ao Iraque, passando pelo Katrina e o 11 de setembro, a autora constrói um quadro cheio de exemplos e ao mesmo tempo investigativo.
O primeiro capítulo do livro é dedicado a uma longa história que relaciona o estado americano e a tortura como método.
Voltarei ao livro.
Um dado: antes do furacão Katrina, New Orleans possui 123 escolas públicas, agora são 4.
Não para de pensar na remoção das casas do Alemão anunciadas na semana que as chuvas causaram tamanho estrago na cidade.
Para baixar o livro A doutrina do Choque, Naomi Klein: http://migre.me/xbtD (em inglês) - em Português lançado pela Nova Fronteira (o livro, instigante e de fácil leitura custa quase 80 reais. Esses editores... Ou estão boicotando ou são muito incopetentes mesmo.)
Carteira de Relações
E ai ele me diz assim, tentando explicar porque não vai deixar a empresa em que está.
- Eu preciso também levar em conta que a "carteira de relações pessoais" que eu estou fazendo nessa empresa não tem preço.
Relações, carteira? O cinismo que leva alguém a dizer isso como se fosse algo normal agride.
A carteira de relações dele é anterior ao fim que pode ter uma relação. Por que estamos juntos? O que podemos fazer juntos?
Fiquei pensando na minha carteira de relações pessoais.... Não passei de uns 3 ou quatro autores, todos mortos.
- Eu preciso também levar em conta que a "carteira de relações pessoais" que eu estou fazendo nessa empresa não tem preço.
Relações, carteira? O cinismo que leva alguém a dizer isso como se fosse algo normal agride.
A carteira de relações dele é anterior ao fim que pode ter uma relação. Por que estamos juntos? O que podemos fazer juntos?
Fiquei pensando na minha carteira de relações pessoais.... Não passei de uns 3 ou quatro autores, todos mortos.
10 de abr. de 2010
Em meio à tragédia causada pela chuva e pelo capitalismo
Infelizmente nenhuma matéria em nenhum órgão de imprensa começou assim.
A chuva é muito importante, assim como o capitalismo é o nosso mundo hoje e não estou aqui para negá-lo, mas da mesma forma que o excesso de água causou as mortes, nossas opções por um determinado tipo de exploração das cidades também. E, essa exploração da cidade, fundada nas separações drásticas entre ricos e pobres em que a especulação é anterior ao bem estar urbano é próprio da inundação de capitalismo que nos afoga.
O que vimos em meio à tragédia foi uma culpabilização constante da população que mora nos morros e nas "áreas de risco". Para a mídia e muitos governantes, ser pobre é ser irresponsável para consigo mesmo, uma vez que ao morar em uma área de risco estaria colocando a vida em perigo e perante a sociedade, uma vez que os "invasores" não pagam os devidos impostos.
Repete-se isso incessantemente.
O vontade de não querer entrar no problema faz com que os defensores dessa organização criminosa da cidade fundamentem suas posições no preconceito mais deslavado.
Alguém pode imaginar que um morador de uma favela acha que está em plena segurança ali?
Alguém pode imaginar que ele não preferia estar na altura do asfalto, sem ter subir centenas de metros a pé?
Ou ainda, alguém imagina que agrada estar em um lugar com péssimas condições sanitárias?
Obvio que não.
Trata-se justamente de uma avaliação de risco.
As pessoas que moram nas ditas áreas de risco ali estão porque as opções que lhe são dadas trazem ainda mais risco.
Morar longe dos centros empregadores e o risco de não ter trabalho, o risco de ter uma escola pior para os filhos, o risco de não ter acesso a nenhum bem cultural, o risco de dormir no emprego depois de passar 2 horas em pé no trem.
Post com tom de desabafo, é verdade. Mas a tragédia na cidade serve antes para reafirmar um modelo de especulação do que para questioná-lo e isso é feito chamando pobre de burro e irresponsável.
Indico vivamente a entrevista com a Raquel Rolnick sobre a questão urbana nas grandes cidades : http://www.revistaforum.com.br/sitefinal/EdicaoNoticiaIntegra.asp?id_artigo=8037
A chuva é muito importante, assim como o capitalismo é o nosso mundo hoje e não estou aqui para negá-lo, mas da mesma forma que o excesso de água causou as mortes, nossas opções por um determinado tipo de exploração das cidades também. E, essa exploração da cidade, fundada nas separações drásticas entre ricos e pobres em que a especulação é anterior ao bem estar urbano é próprio da inundação de capitalismo que nos afoga.
O que vimos em meio à tragédia foi uma culpabilização constante da população que mora nos morros e nas "áreas de risco". Para a mídia e muitos governantes, ser pobre é ser irresponsável para consigo mesmo, uma vez que ao morar em uma área de risco estaria colocando a vida em perigo e perante a sociedade, uma vez que os "invasores" não pagam os devidos impostos.
Repete-se isso incessantemente.
O vontade de não querer entrar no problema faz com que os defensores dessa organização criminosa da cidade fundamentem suas posições no preconceito mais deslavado.
Alguém pode imaginar que um morador de uma favela acha que está em plena segurança ali?
Alguém pode imaginar que ele não preferia estar na altura do asfalto, sem ter subir centenas de metros a pé?
Ou ainda, alguém imagina que agrada estar em um lugar com péssimas condições sanitárias?
Obvio que não.
Trata-se justamente de uma avaliação de risco.
As pessoas que moram nas ditas áreas de risco ali estão porque as opções que lhe são dadas trazem ainda mais risco.
Morar longe dos centros empregadores e o risco de não ter trabalho, o risco de ter uma escola pior para os filhos, o risco de não ter acesso a nenhum bem cultural, o risco de dormir no emprego depois de passar 2 horas em pé no trem.
Post com tom de desabafo, é verdade. Mas a tragédia na cidade serve antes para reafirmar um modelo de especulação do que para questioná-lo e isso é feito chamando pobre de burro e irresponsável.
Indico vivamente a entrevista com a Raquel Rolnick sobre a questão urbana nas grandes cidades : http://www.revistaforum.com.br/sitefinal/EdicaoNoticiaIntegra.asp?id_artigo=8037
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