19 de abr. de 2010

Eu-empresa 1 - com Carlos Hilsdorf

As estéticas e discursos produzidas pelo mundo das empresas, o mundo corporativo, são altamente reveladoras de um desejo de mundo que abarca muito mais que as empresas. Como diz o consultor (de empresas e muito mais) Carlos Hilsdorf nessa entrevista para a CBN: "se nós aplicássemos as ferramentas de gestão a nós mesmo, seríamos um "ser humano-empresa" melhor. O ser humano-empresa deve perceber onde estão suas forças, fraquezas, riscos e oportunidades".

Genial. Definitivamente não é através de um mergulho interior, uma reflexão introdirigida que o sujeito se fará melhor para si e para o mundo. Não é esse homo-psychologicus que constrói e é construído pela corporação. Mas, também não se trata se um sujeito que se constrói ao se narrar, que vive uma certa liberdade fluida pós-moderna. A narrativa aqui não é da ordem da organização e filtragem da memória e da história pessoal em que se mescla vivências e experiências públicas e privadas.

O ser-humano empresa é de outra ordem. Claro, ele é alter-dirigido. Deve ser construído para o outro, mas para escolher esse outro - uma espécie de público alvo - há de se ter talento. Uma vez escolhido o público alvo do eu inicia-se um processo de gestão que pode ser dividido em dois momentos. Aquele em que se avalia as forças e fraquezas. Não interessa qualquer força ou qualquer fraqueza, essa avaliação é um princípio de gestão e não um princípio de vida, por mais que as duas se confundam. Logo, nenhuma avaliação pode ser uma questão de princípio mas de aplicação. Por exemplo, um sujeito caseiro, dedicado à família e à poucos amigos, isso pode ser uma característica não qualificável como força ou fraqueza, mas uma vez que a ordem de organização do eu é a via da gestão, essas características devem, certamente, ser revistas. Falta a esse eu-caseiro uma maior sociabilidade, assim como um maior potencial em abrir uma maior "carteira de relações".

O eu-empresa opera na absoluta funcionalização de todas as caracteríticas do humano.

Depois de avaliada as forças e fraquezas o eu-empresa pode entrar em ação. Ver o mundo como risco ou oportunidade. Certamente que estes dois pólos são aplicáveis a tudo. Do jogo de tênis com os amigos (quais amigos?) às operações com o cartão de crédito. No meio disso, certamente, o trabalho e o auto-conhecimento.

Como nos diz  Carlos Hilsdorf, "o auto-conhecimento é um coisa estratégica".

Quando comentamos que no mundo contemporâneo a distinção entre vida e trabalho se tornou bastante fluida. O eu-empresa nos apresenta a fórmula acabada desse sujeito contemporâneo.

2 comentários:

Felippe Mussel disse...

Voltei ao seu blog hoje acidentalmente e descobri que ele voltou ao ar! Ótima surpresa!

Volto a ser leitor daqui já com um frio na barriga com todos esses Eu-hífen...

abração!

Anônimo disse...

Rapaz, esse seu post vem como ingrediente para meu MOLAMBO, que escrevo aos poucos, mas com muito prazer, nas brechas do ganha-pão.
Gracias!
Vinícius.