Com a proximidade das eleições na Inglaterra, um debate sobre educação começa a ocupar um lugar de destaque. Essa semana, um deputado do partido trabalhista, Tristam Hunt e Michael Wilshaw, o chefão do Ofstead, sistema de avaliação das escolas, colocaram de maneiras diferentes a mesma questão: O que as escolas privadas estão fazendo pela educação do país?
A desigualdade é dura.
7% dos alunos ingleses vão para escolas privadas, mas em Oxford e Cambridge, 50% dos estudantes estudaram em escolas pagas.
Segundo Melissa Benn, pesquisadora da educação, em 2009, de todos os alunos que entraram em Oxford, apenas 29 eram negros.
Um outra pesquisa mostra que os alunos das escolas privadas tem 22 vezes mais chances de estudar em uma das 20 melhores universidades inglesas do que os filhos de famílias pobres que estão no sistema público.
Não conheço os números no Brasil sobre a relação entre riqueza, escolas privadas e acesso à universidades de primeiro nível, mas não acredito que sejam muito melhores.
Pois, o que Hunt e Wilshaw colocam é: as instituições de ensino privadas precisam assumir suas responsabilidades na educação, uma vez que é isso o que elas fazem, e não somente vibrar com o sucesso de seus alunos. Em outras palavras, o fracasso da educação como dispositivo de ascensão social e igualdade, é um problema de todos.
Hunt expõe alguns números com indignação: apenas 3% das escolas privadas ajudam financeiramente as escolas públicas e apensas 5% emprestam professores.
Wilshaw, famoso no meio por ter sido diretor de uma escola pública que obteve grande sucesso acadêmico, fala da necessidade das escolas privadas compartilharem expertise administrativa com as públicas.
Hunt é mais duro e diz que com os trabalhistas no poder eles não serão mais simpáticos nos pedidos para que as instituições privadas assumam suas responsabilidades e uma das coisas a fazer é cortar os descontos em impostos que muitas escolas privadas e religiosas recebem.
Meu interesse pela questão é obvio. Muitas escolas privadas no Brasil anunciam no final do ano o sucesso que obtiveram no Enem e as boas notas no Ideb, falam da qualidade de seus professores, de como são equipadas e da qualidade de seus espaços físicos. Mas, quantas podem efetivamente dizer que participaram na melhoria da educação como um todo e na invenção de uma país mais democrático?
Para ficarmos só na Zona Sul do Rio, qual a preocupação da Escola Parque e da Escola Nova com o sucesso escolar dos jovens da Rocinha? Qual o apoio do Santo Agostinho aos alunos da Cruzada? Qual a ação real do Lycée Moliére para melhorar a escola dos meninos do Pereirão? Qual o trabalho dos padres e dos pais do São Bento nas escolas dos pobres do Dona Marta? Quantas vezes por semana a Escola Americana abre suas instalações esportivas para a comunidade? Qual a formação que o Santo Inácio ofereceu à jovens e professores durante as férias?
Não tenho as respostas mas temo que essa que deveria ser a verdadeira parceria privado/público, acontece bem menos do que o necessário.