9 de fev. de 2008

Cinema na sala de aula 1 - com Alain Bergala

Em 2000, o critico e cineasta Alain Bergala foi chamado pelo então Ministro da Educação da França, Jack Lang, para introduzir o cinema na escola elementar.

Essa experiência gerou o livro "L'hypothèse cinéma".

Trago agora um pouco da experiência de Bergala, neste livro que infelizmente não está traduzido.

Os comentários abaixo já são parte de de um diálogo com o Bergala.

1 - O primeiro embate é com a inércia das pessoas ligadas à educação. A dificuldade de mudar qualquer coisa é uma dura batalha, essa é a realidade. Com ela vamos em frente.

2 - É preciso começar com propostas radicais. O tempo, a transmissão e a colocação em prática tratarão de contê-las. Segundo Bergala é frequentemente necessário colocar a carroça na frente dos bois. Adorei isso!!

3 O primeiro efeito a ser procurado é simbólico.

4 O cinema vai para a escola não como texto ou como tema, mas como ato e criação.

5 - A questão é a criação, não a transmissão de uma saber audiovisual ou artístico. Arte não se ensina, experimenta. Ela deve ser nova para o professor e para o aluno. É pela experiência que o professor pode sair do lugar daquele que ensina para experimentar com os aluno.

6 - Aluno e professor: não sabemos porque é o outro.

7 - Podemos começar pela materialidade da imagem. O que vemos, as cores, os cortes, o corpo, o olhar, o gesto.

8 - A criação é um encontro com a alteridade. O audiovisual na sala de aula pode ser esse encontro.

9- A arte para ser arte deve guardar sua potência escandalosa, caótica.

10 - Bergala não chamou especialista, formados em cinema para a tarefa, os operadores/experimentadores deveriam ser os próprios professores, independente da sua especialidade.

12 - Princípio gerais: reduzir a desigualdade, revelar na criação qualidades intuitivas e de sensibilidade, desenvolver o espírito crítico das crianças.

13 - É preciso não transformar em receita o processo. "Sobretudo se funciona!" Funcionar não é um valor suficiente. O capitalismo funciona, a grande mídia funciona....

14 - Não se trata de colocar o cinema na sala de aula porque ele pode dizer melhor o que já sabemos, mas porque ele tem uma forma sensível que nenhuma outra tem.

15 - A arte é anti-institucional. É com este paradoxo que temos que ter a coragem de colocá-la na sala de aula.

16 - A escola não é feita para o encontro com a arte, mas para muitas crianças ela é o único lugar onde isso pode acontecer.

17 - O cinema entra na escola como um processo criativo, como marca de um processo de pensamento que não se pode ensinar de outra forma.

18 - Analisar um filme e realizá-lo implicam um mesmo tipo de relação com um processo criativo.

19 - A tentativa é encontra formas de se dialogar sobre o prazer e dificuldades daqueles que participaram do processo criativo de um filme - realizadores, atores, roteiristas, montadores, etc.

20 - O medo da alteridade faz com que tendamos a ler o novo à partir do velho. O cinema se torna assim texto, história, tema, ilustração. O que pode um filme e mais ninguém?

21 - O cinema na sala de aula não pode ter pressa.

segue...

3 comentários:

Marcus Vinicius Faustini disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marcus Vinicius Faustini disse...

estamos fazendo isso,ou algo parecido.

Unknown disse...

ei Cezar, fui terça ver uma aula do Bergala no Odeon, com alunos de escola municipais do Rio, foi muito legal, e procurando sobre ele, achei esses comentários seus aqui...

essas "hipóteses" de trabalho são muito legais.

beijos
consuelo