Em 2000, o critico e cineasta Alain Bergala foi chamado pelo então Ministro da Educação da França, Jack Lang, para introduzir o cinema na escola elementar.
Essa experiência gerou o livro "L'hypothèse cinéma".
Trago agora um pouco da experiência de Bergala, neste livro que infelizmente não está traduzido.
Os comentários abaixo já são parte de de um diálogo com o Bergala.
1 - O primeiro embate é com a inércia das pessoas ligadas à educação. A dificuldade de mudar qualquer coisa é uma dura batalha, essa é a realidade. Com ela vamos em frente.
2 - É preciso começar com propostas radicais. O tempo, a transmissão e a colocação em prática tratarão de contê-las. Segundo Bergala é frequentemente necessário colocar a carroça na frente dos bois. Adorei isso!!
3 O primeiro efeito a ser procurado é simbólico.
4 O cinema vai para a escola não como texto ou como tema, mas como ato e criação.
5 - A questão é a criação, não a transmissão de uma saber audiovisual ou artístico. Arte não se ensina, experimenta. Ela deve ser nova para o professor e para o aluno. É pela experiência que o professor pode sair do lugar daquele que ensina para experimentar com os aluno.
6 - Aluno e professor: não sabemos porque é o outro.
7 - Podemos começar pela materialidade da imagem. O que vemos, as cores, os cortes, o corpo, o olhar, o gesto.
8 - A criação é um encontro com a alteridade. O audiovisual na sala de aula pode ser esse encontro.
9- A arte para ser arte deve guardar sua potência escandalosa, caótica.
10 - Bergala não chamou especialista, formados em cinema para a tarefa, os operadores/experimentadores deveriam ser os próprios professores, independente da sua especialidade.
12 - Princípio gerais: reduzir a desigualdade, revelar na criação qualidades intuitivas e de sensibilidade, desenvolver o espírito crítico das crianças.
13 - É preciso não transformar em receita o processo. "Sobretudo se funciona!" Funcionar não é um valor suficiente. O capitalismo funciona, a grande mídia funciona....
14 - Não se trata de colocar o cinema na sala de aula porque ele pode dizer melhor o que já sabemos, mas porque ele tem uma forma sensível que nenhuma outra tem.
15 - A arte é anti-institucional. É com este paradoxo que temos que ter a coragem de colocá-la na sala de aula.
16 - A escola não é feita para o encontro com a arte, mas para muitas crianças ela é o único lugar onde isso pode acontecer.
17 - O cinema entra na escola como um processo criativo, como marca de um processo de pensamento que não se pode ensinar de outra forma.
18 - Analisar um filme e realizá-lo implicam um mesmo tipo de relação com um processo criativo.
19 - A tentativa é encontra formas de se dialogar sobre o prazer e dificuldades daqueles que participaram do processo criativo de um filme - realizadores, atores, roteiristas, montadores, etc.
20 - O medo da alteridade faz com que tendamos a ler o novo à partir do velho. O cinema se torna assim texto, história, tema, ilustração. O que pode um filme e mais ninguém?
21 - O cinema na sala de aula não pode ter pressa.
segue...
3 comentários:
estamos fazendo isso,ou algo parecido.
ei Cezar, fui terça ver uma aula do Bergala no Odeon, com alunos de escola municipais do Rio, foi muito legal, e procurando sobre ele, achei esses comentários seus aqui...
essas "hipóteses" de trabalho são muito legais.
beijos
consuelo
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