19 de abr. de 2008

Ainda o caso Isabella

- Como v. pode não ser tocado?
- Isso não é parte da realidade.
- Como assim? Isso aconteceu.
- Nem tudo que acontece é parte da realidade.
- Claro que é. Se acontece é a realidade.
- Não. Para ser parte da realidade é necessário uma narrativa e é disso que eu quero escapar.
- Mas ali é uma madrasta e um pai que matam uma criança, de verdade.
- Claro, a possibilidade disso existir é evidente, basta as pessoas estarem vivas.
- Mas se realmente aconteceu é outra história, o que levou eles a fazerem isso?
- Mas se eu tentar responder a pergunta estarei entrando na narrativa e enquanto eu não entrar o que aconteceu permanece como um absurdo inexplicável que não deve ser explicado.
- Então o problema é achar uma explicação.
- Também. Mas o problema é anterior. O assassinato aconteceu, mas ele só começar a me dizer respeito se começo a estabelecer relações de identificação. Como pode um pai fazer isso?
- Mas, uma vez que a gente sabe que isso aconteceu essa pergunta é inevitável.
- Mais ou menos. Não me relacionado com esse fato de maneira diferente de que se ele não tivesse acontecido.
-Não entendo.
- Em dez anos ou na Bolívia, ninguém saberá desse caso, ele não é parte da realidade. Mais, essa não é a primeira vez que isso acontece. Porque eu devo pensar e me envolver com algo tão extraordinário e fazer disso parte da minha vida? Porque eu devo ser contemporâneo a tudo?
- Mas escrever no blog sobre isso é se envolver.
- Justamente. Estou impressionado pela forma como a narrativa se impôs.
- Mas mesmo assim você diz que não é a realidade.
- A narrativa sobre o acontecimento é a realidade. Mas o assassinato não.
- Discordo

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