Desde que apareceu o caso Isabella fiz todo esforço para não acompanhar, não saber detalhes e me alienar do debate e da narrativa.
Como tantas outras narrativas encampadas pela mídia, essa, desde o início, mostrava seu potencial dramático e espetacular.
O problema de minha decisão de ficar longe do caso trágico dessa família, que definitivamente não me diz respeito nem é capaz de falar algo sobre nós - mundo e país - é que eu deveria também me abster das relações sociais.
Almoçar em um restaurante qualquer ou comer um sandwich em uma lanchonete se tornava impossível, o som da TV tudo invade.
Nas bancas a primeira página ocupada, no ônibus o assunto se repetia, as rodas estavam recheadas de opiniões.
Eles ganharam. O tragédia particular ganhou a cidade. Não há alienação possível.
O que é público nessa história não é a tragédia familiar, mas a mídia totalitária. Na lanchonete a Record dedicou o tempo do meu sandwich de carne assada - que é mais demorado que um misto quente - inteiro a uma imagem do caso. A madrasta deixava sua casa chorando.
Certo que isso não é novidade.
Em Cinema e a Invenção da Vida Moderna um dos textos narra como Paris ficara absorta com o mistério da morte de uma menina que caira no vão de uma escada. Seu corpo ficou por muitos dias exposto no necrotério de Paris e multidões se juntavam para vê-la. Nas imagens da Record uma nova multidão estava ali também pronta para fazer justiça.
Me sinto refém e indefeso e, nesse sentido, acabo me identificando com aqueles que a mídia chama de monstros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário