Depois da belíssima vitória, fica mais fácil.
O que me chamou muito a atenção nas duas manifestações da
semana passada foi justamente um certo mistério em relação às causas e aos meios
que levaram aquela multidão ao centro do Rio.
Nos dois momentos fui absolutamente surpreendido com a
quantidade de gente.
Ao meu ver havia uma novidade ali que não era explicável
pelo o que conhecíamos dos movimentos e dos poderes estabelecidos.
Todas as tentativas de explicar o que acontecia a partir de
causas e efeitos ou a partir de pautas moralizantes, como a corrupção, não
davam conta do que se passava.
Curiosamente, as demandas de muitos foram no sentido de
exigir mais engajamento, mais politização partidária, mais discursos coesos,
mais centralidade. Obviamente era um absurdo qualquer ato de violência contra
as pessoas com bandeiras de partido, mas algumas bandeiras e um carro de som
também me incomodavam na primeira grande manifestação.
No meu entender, as demandas por coesão e unidade ideológica apareciam
com um caráter bastante conservador, uma vez que não aceitavam a novidade mesmo
do que acontecia.
Na manifestação de quinta, no Rio, a multidão era formada
por jovens que sem um discurso de esquerda explícito reclamavam da elitização
da Copa e pediam uma democratização dos transportes, além de serviços públicos
de qualidade. Esse pessoal constituía uma verdadeira novidade na paisagem
política, sobretudo na quinta quando a multidão se popularizou enormemente.
Como sabemos, essa segunda manifestação foi brutalmente
perseguida pela polícia.
Pois o que aconteceu hoje pela manhã?
Primeiramente, me parece que a estratégia da violência
policial funcionou para os organizadores da Copa. Muitos sentiram medo de irem
para as rua hoje.
Mas, fora o medo, nessa manifestação da manhã não havia
novidade alguma.
Os grupos organizados que conhecemos estavam lá com suas
justas causas. O vermelho estava novamente na rua, as palavras de ordem
tradicionais, das mais nobres às mais patéticas.
Por mais que me sinta próximo da maioria dos que hoje
andaram da Praça Saens Peña ao Maracaña, a novidade não estava lá. O que vimos
era o óbvio. Tudo era compreensível e previsível.
Se o que era claro nas outras manifestações era a existência
de um processo político que se fazia na própria manifestação, a caminhada de
hoje foi apenas a confirmação das mesmas forças de esquerda de sempre.
Em resumo. A manifestação era vazia porque havia muito pouca
gente.
A manifestação era inócua pois, sem invenção, com essas
forças políticas e com essa organização, os poderes já sabem exatamente como
lidar.
Evidentemente que não vai aqui nenhuma negação da necessária
institucionalização dos processos políticos, mas talvez nossas ferramentas intelectuais
e de organização, estejam aquém do que se apresenta hoje.