Nas atuais manifestações, além do
evidente descompasso entre os processos produtivos e os processos subjetivos,
como comentávamos em um outro post, há o próprio lugar da manifestação.
Quando nos perguntamos o que
querem os que manifestam ou quando lemos que há demandas demais, o que está
colocado é que as manifestações devem ser o ponto final de uma elaboração
política. Ou seja, as pessoas devem pensar exatamente o que querem antes de ir
para a rua. Pois, não é isso que vemos: as ruas são ocupadas para que elas se
tornem o lugar da sociabilidade. A manifestação, diferentemente do Fora Collor
ou das Diretas, se constitui muito mais como um espaço em que uma inquietude em
relação aos futuros possíveis se expressa.
Se concordamos com esse gap entre
as formas de vida aceitáveis e as formas de vida desejáveis, faz todo sentido
que as demandas sejam enormes, uma vez que é próprio a todo processo subjetivo
um agenciamento de muitas ideias, forças, desejos.
A cada vez que perguntarmos para
os que caminham em direção aos estádios o que eles desejam, deveríamos antes
perceber que o que importa é que eles estão na rua e na frente dos estádios.
Isso diz muito.
Mas, mesmo assim, as pautas são
necessárias.
A do transporte tornou-se
massiva. Por que? Porque os pobres querem consumir transporte como os ricos,
poderíamos dizer. Me parece pouco.
Temos exercitado nosso preconceito
de classe dizendo que os pobres querem apenas mais e mais consumo.
Pois o transporte está
diretamente ligado aos processos subjetivos.
Todos querem o direito de ir, não
sabemos para onde nem por quais motivos.
Para o capital, o estado
autoritário e a grande mídia, isso é horrível! Eles descobrem que além de
consumidores existem sujeitos.
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