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Pelo
o que vemos nas manifestações, nos gritos e cartazes, parece evidente a conexão
entre esses atos e a Copa do Mundo, representada, nesses dias, pela Copa das Confederações.
Essa conexão é cotidianamente obliterada da grande mídia. Eu arriscaria dizer
que tudo isso acontece agora por conta da Copa em curso. Entretanto, seria
singelo achar que se trata apenas de uma revolta com os gastos ou com a
eventual corrupção que pode ter acontecido em algumas das obras.
Me
parece que o modo como a Copa se configurou no país explicita questões
políticas e sociais muito mais graves. De alguma forma a Copa se tornou o
símbolo de um país que apesar de todas as melhoras dos últimos anos, não
resolveu um problema fundamental que pode se expressar assim: para se ter direito
à cidade, para se ter serviços públicos de qualidade, moradia, educação ou para
poder ir ao jogo que sempre frequentamos, é preciso ser rico, é preciso
pertencer a uma elite.
O
futebol, uma marca constituinte do país, foi furtada daqueles que o apreciam e
entregue como moeda de troca para o espetáculo, para a especulação imobiliária
e para o comércio que cobra 12 reais a cerveja no interior do estádio. Para se
ter direito ao que nos constitui é preciso ser rico. É isso que há muitos meses
nós escutamos em todos os lados.
A
multidão que está nas ruas não está respirando gás lacrimogêneo para poder ir
ao estádio, mas é como se a Copa explicitasse o modo de operação de todo o
estado associado ao capital e à grande mídia. O preço da passagem e a Copa materializam
a forma como a população foi alijada do que lhes pertence, o forma como há uma
desconexão entre consumo de bens básicos e participação efetiva no que
constitui a elite: tempo, lazer, saúde, entretenimento.
É
curioso que tudo isso aconteça sem que o Brasil esteja propriamente em uma
crise econômica, deixando claro que o que provoca uma revolta não é uma crise,
mas a política, a forma como alguns são excluídos. Ou como, apesar de incluídos
em alguns consumos, fazem parte de um país que produz constantemente novas
exclusões.
A
Copa, de espetáculo virou metáfora.
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