Minha
geração possui a memória das diretas já e do impeachment do Collor como
grandes movimentos populares em que participamos, os atuais
acontecimentos trazem uma marca singular: não somos mais os
protagonistas.
Claro, vamos às manifestações, discutimos com
amigos, organizamos encontros nas universidades, podemos ter um papel
ainda importante, mas não somos os protagonistas.
Talvez esse
“outro lugar” configure uma das dificuldades de pensarmos o que
acontece. Se colocarmos nos jovens protagonistas - muitos deles pobres -
as mesmas perspectivas que valeram para o nosso engajamento, não
entenderemos nada.
Assim, o vermelho e a bandeira brasileira,
por exemplo, ganharam outros sentidos. Não posso abandonar o sentido que
esses símbolos tiveram para nós, mas não posso julgar a partir de uma
perspectiva reacionária, de quem só vê esquerda quando tudo está
vermelho, ou só vê lutas legítimas feitas por iguais.
A
critica à forma da copa organizar a cidade, o passe livre, a rejeição do
conservadorismo evangélico representado pelo Feliciano, foram bandeiras
fortes nas manifestações e essa bandeiras são agregadoras de jovens que
não necessariamente se identificam com um projeto tradicional de
esquerda.
Com diversas bandeiras, estão à beira dos estádios/bunkers. Isso diz muito.
Pode até ser que os milhões de jovens que estão nas manifestações não
nos digam exatamente porque estão ocupando as ruas e enfrentando a
polícia, mas certamente eles sabem/sentem.
Um comentário:
Oi Cezar,
Eu concordo muito com você. Nós não somos mais os protagonistas, mas temos uma função estratégica como coadjuvantes.
Desde ontem, sinto que há uma disputa ideológica por esses jovens. Frases de intolerância com símbolos de esquerda, alguns fora do governo, pronunciadas por adultos.
Acho que nós, adultos, deveríamos parar de tentar entender quem são esses jovens vivendo o seu rito de passagem politico e pensarmos como entramos nesse movimento, como podemos ser "escada" (usando um termo teatral) deles. E dizer para os adultos reacionários: "vai mexer com alguém do seu tamanho".
Abraços,
Silvia da Costa
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