
Ricardo diz assim: "Esse trabalho pode existir daqui a 150 anos, quando eu não estiver mais aqui e o objetos continuarem a circular e a documentação sobre essa circulação continuar a ser feita."
Esta percepção parte da idéia de que o dispositivo inicial absorve a totalidade do trabalho. Ou seja, trata-se de um trabalho processual em que a ação - proposição do artista - está no estabelecimento das regras e formas que disparam o processo e que depois ele pode se ausentar.
Pois é exatamente isso que Ricardo Basbaum não faz, felizmente. A palestra no parque Lage - ou em Kassel - é parte importante do trabalho. Nos últimos anos esse projeto ganhou elementos e acontecimentos que não subvertem o o dispositivo inicial mas que o mantém vivo, com o movimento necessário para que ele continue potente.
A montagem de kassel é um exemplo disso. Ali o artista inventou uma arquitetura para apresentar o projeto, fabricou 20 novos objetos, instalou duas câmeras de segurança no interior desta arquitetura em que os espectadores podia se ver, etc. Pequenos elementos transformam constantemente o projeto, impossibilitando a ausência do artista.
O dispositivo lida com limites - as regras que estabelecem o ponto de partida: a forma do objeto, um mês na casa da pessoa ou grupo, a documentação , etc - e contingência - todo acaso que surge à partir desses limites.
Se nos detemos nas regras que fundam uma determinada obra podemos perceber o dispositivo “iniciando” a possibilidade da obra mas estaremos distantes ainda dos modos desta metaestabilidade aparecer nas intereção, escrituras e operações internas à obra.
O dispositivo, pensado como uma regra para que a obra aconteça, uma "prisão" temporal e espacial, não constitui em si sua dimensão metaestável, não aparece como garantia para um processo de interação perpassada pelo acaso e descontrole por um lado e pela escritura, presença múltipla e subjetiva que constitui a obra, por outro.
Um trabalho como o de Basbaum, felizmente, não está dado uma vez que o dispositivo é inventado, são pequenos movimentos do artista no interior do dispositivo que ele e a obra habitam que permite a continuidade de sua força.
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