A semana passada Ilana Feldman e eu escrevemos nossas primeiras impressões sobre o programa Retrato Celular, do Multishow.
Ontem, no segundo programa de uma série de 8, pouca coisa mudou.
Queria destacar entretanto uma coisa.
Comentamos as insistentes "entrevistas" nas quais toda narrativa era baseada. Um modelo confessionário do Big Brother. Comentamos também a ausência da som direto dos celulares.
Pois, no programa de ontem as imagens dos celulares com som direto estavam bem mais presentes. Mas isso não basta.
Os anônimos personagens do programa quando estão sozinhos com o celular câmera estão o tempo todo fazendo cabeças. Cabeça é aquele momento em que o repórter olha para a câmera e "passa o recado". Em Retrato Celular, quando as pessoas não estão no confessionário elas estão fazendo cabeças.
Falando para câmera o que estão fazendo, sempre se dirigindo ao espectador.
Cinema Direto, que saudade!
O celular não é para filmar a vida, para estar na vida, é para deixar recado. Nesse sentido ele não deixa de ser celular, mesmo tendo uma câmera.
O destino de celular se impõe!
Diversos programas se apresentam agora como "feitos com celular" ou com micro câmeras digitais , ou filmados por amadores, etc. De um modo geral há uma percepção equivocada do que é inventar um dispositivo para a criação audiovisual.
Fala-se nestes dispositivos como se eles tivesse em si a potência de inventar uma escritura, como se eles trouxessem uma novidade para a imagem.
Pois não é assim.
O dispositivo é parte de uma escritura, mas não garantia.
Para fechar, uma breve passagem do Deleuze que torna ainda mais complexa a questão do dispositivo em Retrato Celular. "o objetivo da escritura é de levar a vida ao estado de uma potência não pessoal."
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