Na Piauí 11, que está nas bancas, João Salles reencontra o seu filme Entreatos. No lugar de um futuro presidente, como no filme, o jornalista e cineasta faz um Entreatos - com alguns breves atos - com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC).
O longo texto na revista se aproxima do filme pela generosidade com que João se aproxima de seu personagem - preciso abandonar essa palavra - e pela facilidade com que edita o texto - e o filme - tornando os presidentes simpáticos, engraçados e espirituosos.
Em alguns momentos do texto João Salles faz comentários sobre o que vê, o que me parece muito bem vindo. O tom cinema-direto do texto encontra comentários sobre a mala "espantosamente vermelha" do presidente, sobre o "duvidoso" fettuccine. Mas o mais importante momento em que o autor abandona o relato objetivo e no presente da ação é ao lembrar que Fernando Henrique Cardoso dá continuidade à lotação de cargos feita pelo PMDB no governo Sarney.
"O próprio Fernando Henrique, no entanto, ao chegar à presidência parece ter concluído que a política no Brasil era assim mesmo. Protegeu os três ministérios que considerava essenciais - Saúde, Educação, Fazenda - e entregou o resto aos de sempre, sob o argumento de que era isso ou a paralisia. Acomodou-se ao seu modo. Renan Calheiros foi seu ministro da Justiça"
O texto dá ainda especial atenção à necessidade de Fernando Henrique Cardoso de se distanciar da imagem de um neo-liberal, do homem que tudo privatizou. A edição do texto é habil em manter esse discurso como o pano de fundo das falas do ex-presidente.
Independente da opinião de João Salles, me parece interessante que o jornalista se permita a tomada de posição que o cineasta normalmente se absteve de fazer, mas não que devesse ter feito. João leva para esse texto jornalístico a experiência dos filmes anteriores ao mesmo tempo em que elementos novos aparecem.
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