28 de ago. de 2007

Tropa de Elite, de José Padilha

Na Matéria Gato Por Lebre, José Padilha erra o alvo. O problema dessa cópia pirata que circula no Rio é que ela é fruto de um roubo, não de pirataria.

O que está no camelô não é o trabalho de Padilha e de sua equipe, já que não se trata da cópia final. Esse é o problema maior.

Argumentar que precisa dos lucros do filme para sobreviver é apenas patético e deixa de lado o complexo que é a chamada pirataria e a facilidade com que os frutos do conhecimento circulam.

Padilha quer ganhar em cima do conhecimento: "nos crimes contra a propriedade intelectual está se roubando também o investimento que foi feito na educação de quem estudou para produzir bens desse tipo." Talvez essa seja a frase mais reacionária que eu li nos últimos tempos.

A pureza do diretor que nunca usou um software pirata ou baixou uma música na internet torna-se risível diante da força dos que não vão pagar 18 reais para ver o filme no cinema.

6 comentários:

paoleb disse...

eu vi o filme anteontem, enquanto enrolava brigadeiros pro fritz. um amigo ganhou uma cópia de outro amigo, que por sua vez tava copiando pra todo mundo do trabalho deles. ficamos falando que ao invés de tentar reprimir o irreprimível era melhor nego tentar ganhar dinheiro com os dvds virgens. na verdade é uma grandissima jogada de marketing né não? lembrei do bruno vianna que brilhantemente lançou seu cafuné assim, simultaneamente na web e nas salas, dando workshop em lan house pra ensinar neguzin a baixar e copiar filme na web. ou seja transformou a pirataria em ferramenta de distribuicão. rolou um debate sobre isto na aula do antoun http://icox.crie.ufrj.br/icox.php?mdl=mensagem&op=ver&idcom=7&id=150

dado disse...

Cezar,
tava há um tempo sem passar aqui, e agora tanta coisa pra ler...
Sobre esse post, eu vi o filme, me foi posto em mãos por um aluno do Vidigal - lá o dvd está em locadoras e é assistido em biroscas.
Não li o artigo do diretor, mas sentio o filme reacionário, maniqueísta. Daí concluo que quem o dirigiu deve pensar daquela maneira, ou seja, que qualquer um que já comprou bagulho um dia seja responsável pelo tráfico ter o poder que tem no Rio.
Abração!

Migliorin disse...

-- Pois é, essa história é paradigmática.
Trata-se de uma elite bem formada, ligada as artes que continua sem perceber que a comunicação, a interação e a troca de informação que estão no centro do capitalismo é também o que o enfraquece.
Quando o capitalismo e o lucro escorregam, não dá para não sorrir. Quando o cara que não pode pagar para ir no cinema consegue ver um filme brasileiro, deseja e corre atrás
Que sucesso esses caras querem?
O filme circular na favela, estar no camelô, etc.... que inveja do sucesso do Padilha!

O capitalismo hoje deve inventar formas de lucrar sem constranger a circulação do conhecimento.

Ninguém pegou o filme do Padilha e disse: olha o filme que eu fiz. Não, as pessoas estão vendo o filme dele.
A tarefa deles agora é acabar o filme, abrir uma baquinha no centro da cidade e trocar cada cópia pirata por uma cópia original. Não precisa nem capa nem embalagem, apenas a versão com o corte do diretor e com o som finalizado.

(Adorei essa idéia!)

O exemplo do filme do Bruno Vianna que a Paola trouxe é muito bom. Não é possível ficar batendo na mesma tecla que demanda fronteiras e barreiras no mundo que estamos conseguindo construir.
beijos
Cezar

dado disse...

Um adendo a essa discussão: o texto do Lucas Santanna em http://www.overmundo.com.br/overblog/tropa-de-elite-osso-duro-de-roer-1

ah, outra coisa: vc não acharia melhor para o leitor q seu blog abrisse janelas qdo clicamos no link?
abração!

Migliorin disse...

Oi Dado,
Valeu pela dica do texto do Lucas.

Estou preparando um texto para a Cinética sobre esse caso e hoje acordei tentando me colocar na pele do Padilha.

Há um ano e meio atrás participei de uma mesa na PUC com o Luis Eduardo Soares e ele já me falou muito do filme. Lembrei disso hoje. Tanto tempo depois o filme ainda não foi lançado.
Cinema é assim, a gente sabe.

Mas, na hora de mostrar, de chegar para as pessoas e exibir seu trabalho, sua maneira de pensar diversas questões que são parte da vida da gente, o filme escapa.

Acho que deve estar sendo difícil para ele mesmo. O desafio seria perceber a riqueza do que está acontecendo também. Mas talvez seja demais para quem está até o pescoço dentro de uma lógica, com duras batalhas para conseguir grana, que estava pensando o filme como seu, enquanto propriedade além de autoria.

Quando o texto pra Cinética estiver lá coloco o link cá.

Abs.
Cezar

Migliorin disse...

Ah,
sobre a tua sugestão de fazer os links abrirem em outra janela, é dúvida para mim.
Gosto da idéia de que o Blog joga para fora sem querer ficar te segurando, mas entendo a vontade de poder rodar e voltar.

Vou pesquisar a possibilidade de fazer isso com alguns links.
Valeu
Cezar