Três ou quatro reflexões à partir de cineastas que filmaram a própria mão - Varda, Keuken, Godard, Depardon, etc
Para não deixar qualquer dúvida de que não se trata de uma imagem acheiropoiete (não realizada pela mão humana) A primeira coisa a fazer é filmar a própria mão.
Retirar das imagens qualquer caráter sagrado ou transcendente. Colocar a própria mão em primeiro plano, como um grito poético – “aqui estou”.
Modo explicito de se colocar entre as imagens e o mundo, retirando das imagens qualquer memória de algum dia foram objetos executados por elementos maquínicos desubjetivados.
Este gesto traz a imagem e a máquina para o interior de um dispositivo de experiência onde a experiência extrapola a imagem e a máquina. Ambas passam a ser parte desta trama heterogênea em que indivíduos fazem parte e em que uma pluralidade de forças entram em relação com esses indivíduos constituindo assim um processo de individuação - eles próprios.
Filmar o corpo para poder ter corpo a ser filmado.
« Je n’accepte pas de n’avoir pas fait mon corps moi-même » (Eu não aceito não ter sido eu mesmo que fiz meu corpo)
Antonin Artaud. (Citado na tese de Muriel Tinel)
Se tradicionalmente no cinema esteve em jogo a presença ou a ausência do aparato, a transparência ou a opacidade, o espetáculo ou sua interrupção, tais duplos se perdem em novo naufrágio das categorias que operam por exclusão e separação.
Máquina e imagem não são pólos da experiência mas parte do dispositivo de onde elas podem aparecer. A mão e a câmera não estão somente atrás ou na frente da cena mas participando do mesmo movimento, explicitando uma impossibilidade de objetividade e automatismo, de uma lado, e abstração de outro, nem automatismo nem humanismo.
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