21 de mai. de 2008

Brasil+20 e a leitura de O Globo

Uma matéria do Globo de quarta-feira (20.05) resume a conclusão de intelectuais, empresários e jornalistas que estão pensando o Brasil para os próximos 20 anos.

Segundo o grupo reunido no evento Brasil+20 os principias desafios do Brasil para a próxima década são:
reduzir o gasto público
combater a insegurança

Não consigo transcrever as conclusões dos "pensadores" - inclui-se o relato da jornalista do Globo - sem rir da desfaçatez.
Certamente que essa não é a conclusão de todos que estavam no encontro, mas só quem não tem noção alguma do que é o país, quem nunca esteve em Sobral, Nova Iguaçu, Alegrete ou Manacapuru pode acreditar que corte de gastos e segurança são nossos principais desafios.

Se há dinheiro na sociedade ele não deve ser de todos, mas do mercado, para isso é preciso reduzir gastos. O Estado não pode ser colocado como contraponto do consumo - opção individual de poucos.

Reduzir gastos é a mesma coisa que reduzir receita do estado; menos dinheiro comum.

Basta um mês em um desses municípios para se entender a necessidade de recursos. Lá onde o mercado não está, onde só com a presença do estado junto às pessoas é possível transformar.

Já o discurso da insegurança está ligado ao medo; o país é perigoso, a vida é perigosa.

Se o mundo não é seguro precisamos isolar as áreas seguras das não seguras.

Se o mundo é inseguro isso implica na necessidade de mais controle, mais mapeamento das ações e fluxos humanos, dos desejos e, claro do consumo.

Controlar a insegurança é uma maneira de mapear quem e como se consome.

Isolamento daqueles onde há insegurança, já que nem o estado pode estar presente, e esquadrinhamento das formas de vida; câmeras, acesso a dados digitais (movimentação na internet, gastos de cartão, crediários, movimentação financeira, etc)

Eureka!

Os dois discursos se encontram: Menos estado e menos insegurança se traduzem assim em apenas uma fala: mais consumo de quem pode consumir. Diminiuir o estado e aumentar o controle são formas de garantir mais dinheiro para um consumo direcionado e privado.

Entendi o Brasil que os "economistas, intelectuais e autoridades" desejam, segundo o relato da jornalista Cássia Almeida.

Este post é fortemente influenciado pela recente leitura da pesquisa de André Brasil, sobre Capitalismo, controle e biopolítica.

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