3 de jul. de 2007

Exclusão, exploração e documentário


Os sociólogos Luc Boltanski e Chiapello fazem uma distinção no livro O novo espírito do capitalismo entre um discurso crítico ao capitalismo que trabalha com a noção do excluído e do discurso que trabalha com a noção de classe - que se desdobra em exploração.

Não vou entrar na discussão, mas o debate me levou a pensar algo sobre o documentário.

O excluído, dizem eles, diferentemente do explorado, não traz vantagens a ninguém, logo ninguém pode ser julgado como responsável. (Apenas o estado - eu acrescentaria) O excluído guarda ainda uma ressonância da origem do termo, para se referir aos deficientes e incapacitados para a inclusão, algo que não acontece com a noção de classe nem com a noção de explorado.

A crítica frequente e justa ao documentário que trabalha com a noção de classe se dá porque ele precisa colocar os indivíduos dentro de uma conjunto de valores - de classe - que elimina as suas próprias produções subjetivas que escapam aos limites de classe.

Essa crítica hoje é praticamente desnecessária, uma vez que o documentário se afastou tremendamente do explorado. O documentário de esquerda - e frequentemente a ficção também - está interessado no excluído.

O problema da exclusão separada da exploração é porque ela se apresenta como um destino contra o qual se deve lutar e não como resultado de uma assimetria social em que alguns homens tiram vantagens em detrimento de outros. - p.436

Se concordamos com os sociólogos que a exclusão ignora a exploração, o documentário que se concentra no excluído, sem tentar conectar para as redes - exploração - que o mantém excluído ou que o colocam como indivíduo menor, reduzido, perde grande parte da potência política que ele pode ter.

Desafio para o documentário: abandonar a contemplação do excluído, conectar o excluído com o que explora sem eliminar o que existe de invenção no processo de individuação e nos processos de fabulação.

Devemos então abandonar a noção de exclusão, se perguntam os sociólogos. Não, a exclusão aponta para novas formas de miséria que correspondem às formas que o capitalismo assumiu à partir dos anos 80: capitalismo conexionista.

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