Estar sob o risco do real, escreveu Comolli para se referir a um princípio básico do documentário. A frase de Comolli é excelente o que a torna altamente operacionalizável. Todo documentário, por pior que seja, está de alguma forma sob o risco do real, o que faz com que qualquer improviso, qualquer gesto não programado que surja no documentário justifique o elogio: "um filme feito sob o risco do real". O real só é arriscado se o que aparece de intempestivo e não programado é aceito, ouvido e vem a transformar o que está dado a ver, a ouvir e sentir.
Usar um câmera de um celular em um programa como Retrato Celular, no Multishow significa incorporar imagens feitas no calor dos acontecimentos, na intimidade, inesperadas; sob o risco do real, como se tornou clichê dizer. Mas qual o risco se todas essas imagens são subordinadas a uma estrutura que antecede o risco e o real?
Em Diferença e Repetição Deleuze escreve:"só se pensa porque se é forçado". Esse é o risco, que o real nos force a pensar. Talvez seja o que pode o documentário.
2 comentários:
fiz um pequeno comentário sobre diferença e repetição no meu blog do icox, que atualizo pouco:
http://icox.crie.ufrj.br/icox.php?mdl=pagina&op=listar&usuario=102&busca=deleuze
César, ao ler, pensei em como este "risco do real" não está relacionado ao documentário, necessariamente, enquanto formato e gênero. Afinal, um filme do Cassavetes, ou mesmo do Nicholas Ray, não estaria também sob este risco?
abs
Thiago Brito
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