28 de mar. de 2016

A Garota Dinamarquesa

A Garota Dinamarquesa é um filme curioso. Tudo acontece em torno do personagem que começa a se travestir, assume junta à companheira sua homossexualidade e finalmente se submete à primeira cirurgia na história para a retirada do pênis e a produção de uma vagina.
Entretanto, narrativamente, é no amor incondicional de sua parceira que o filme se centra. Apensar de tudo, ela está ao seu lado. Com idas e vindas, mas sempre presente. 
O que acaba dando as feições mais conservadoras ao filme – além de tantas opções estéticas, como apontou Bernardo Carvalho em recente crítica – é o fato de a mulher, mesmo movida por seu amor incondicional, não ter seu desejo alterado ou perturbado por tudo que acontece com o marido.
O filme se apoia assim em um jogo binário – ou ele é homem, ou ele é mulher. Se ele for homem, a relação com ela pode existir, se for mulher, não há sexo. A centralidade narrativa passa assim a ser totalmente pauta pela lógica heterossexual da mulher, inalterada, mesmo quando seu marido não para de escancarar as portas para outras possibilidades eróticas.
O que poderia ser uma história libertária, acaba se tornando uma história que corrobora a impossibilidade daquele homem, com seus desejos subversivos para a época, mudar qualquer coisa no seu entorno, nem mesmo a mulher que o ama.

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