Em 2016 o Clint Eastwood dirigiu um filme sobre uma aterrissagem forçada no Rio Hudson em Nova York. Em 2009 um Airbus decola de La Guardia e nos 3 primeiros minutos de voo perde as duas turbinas ao atravessar uma revoada de gansos. Do ponto de vista dos pássaros, um desastre. O comandante tenta voltar ao aeroporto, percebe que não vai conseguir e aterrissa no rio. As 155 pessoas a bordo se salvam com poucos passageiros com ferimentos leves.
O drama na história é o seguinte. A Airbus e Agencia de segurança aérea tentam provar que Sully (Tom Hanks), o comandante que dá nome ao filme, teria tido tempo de voltar para o aeroporto, evitando aterrissar no rio. (contarei a partir daqui o desdobramento da narrativa)
Vários programas de computador e simuladores mostram que Sully poderia ter retornado. De maneira hiper-realista, vemos a aterrissagem segura feita pelos pilotos com simuladores.
Entretanto, a hipótese daqueles que não estavam no avião é desfeita porque entre o choque com os pássaros e a decisão de retorno ao aeroporto, com uma abrupta manobra, se passam quase 30 segundos. Descobrimos que os pilotos que usam o simulador só conseguem voltar para o aeroporto porque já sabem que deverão fazer isso antes da batida com os pássaros.
Nos 30 segundos, a cabine de comando tenta entender o que aconteceu e verifica todos os procedimentos de segurança. No filme, estamos no tempo do cérebro tomando uma decisão. Um tempo intenso e inevitável.
O filme me fez pensar, nesse momento.
A quarentena é como os 30 segundos de Sully.
Não sabemos se teremos que voltar para o aeroporto, não sabemos o que aconteceu com o avião. Se mantivermos o sangue frio talvez dê para aterrissar em algum lugar. Mas, podemos, claro, fingir que não está acontecendo nada e mandar servir uns drinks para os passageiros, agitar umas bandeiras.
A quarentena é como os 30 segundos de Sully.
Não sabemos se teremos que voltar para o aeroporto, não sabemos o que aconteceu com o avião. Se mantivermos o sangue frio talvez dê para aterrissar em algum lugar. Mas, podemos, claro, fingir que não está acontecendo nada e mandar servir uns drinks para os passageiros, agitar umas bandeiras.
Esse momento de decisão é de uma intensidade física gigantesca. Pensar em centenas de variáveis ao mesmo tempo, ter um corpo para suportar a pressão.
“Como você sabia que não teria como chegar no aeroporto?” “Eu só sabia”, diz o comandante. Quando as variáveis são grandes demais, é preciso checar todas possíveis, mas, na hora da decisão é a decisão que coordena.
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