19 de mai. de 2020

Diário do entre-mundos 53

Por vezes, andando de máscara pela rua, tomo o susto.
Que mundo é esse mesmo?
Me assusto com a velocidade de nossa adaptação.
Um mundo que escorre entre os dedos.
Tentamos segurar, mas foi.
Mas, que duro esse governo. Talvez o mesmo susto.
O que nos aconteceu que os mais toscos, tristes e violentos chegaram ao poder.

O vizinho que se calou, a tia que votou em um idiota, a miséria das vidas que se vê refletida nos poderes.
Não seria isso?
Não seria essa, também, nossa política possível? 
Onde houver miséria nos modos de vida, ela deve ser enfrentada como se derrubássemos Bolsonaro.
Mandar o tio pra pqp.
Quebrar as câmeras que nos vigiam.
Se f*der as falas subservientes à burocracia.
Lembrar o vizinho que ele é cúmplice.
Que os militares sujam mais uma vez as mãos.
Onde houver miséria – nesses toscos jornalismos ridiculamente delicados com o capital.
Onde houver miséria derrubar o fascismo.
O susto enfrentado com um revide calculado.
Não me convoque para a sua miséria de vida, sua miséria sensível, sua miséria cotidiana.
Amanhã de manhã seremos convocados em algum telefone, memória ou na dor dos que morrem.
Vai dar trabalho, mas a vida é outra coisa.
-- Diário do entre-mundos 52 --

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