25 de jun. de 2007
Ricardo Basbaum na Documenta
Você gostaria de participar de uma experiência artística?
Assim começa o dispositivo de Basbaum. Se a pessoa aceita ela deve ficar um mês com um objeto inventado pelo artista, utiliza-lo como quiser e documentar essa utilização. O projeto acontece desde 1994.
O objeto passa a fazer parte da vida e aparece então como um shifter de subjetividade, como escreveu Guatarri e as imagens que aparecem documentam esses deslocamentos, do objeto e do participante.
O que as imagens documentam é o modo como o objeto inspira gestos e ações ao mesmo tempo em que a utilização do objeto da a ver o indivíduo que o utiliza - o que é dos desdobramentos mais interessantes desse trabalho infinito (ele pode acontecer para sempre, crescendo, se alterando e se constituindo como um imenso banco de dados atravessado por uma poética), work in progress.
A relação do artista com os participantes se dá pelo objeto, não é necessário nenhuma pergunta, nenhuma intervenção mais específica; a entrada do objeto na cena do participante acaba por ser delicamente reveladora do indivíduo ou grupo que o utiliza. Uma revelação que é sempre desindividuada, transubjectiva, como escreveu Brian Holmes (inglês - espanhol) sobre o trabalho de Basbaum. O que se vê é sempre o indivíduo deixando um lugar estável, identitário, para jogar com gestos e modos possíveis de lidar com essa New basis of Personality.
Se o indivíduo é algo que sempre aparece em um processo de individuação, distante sempre de uma realidade substancial, o trabalho de Basbaum intensifica essa percepção inventado um dispositivo que materializa e traz uma presença estética para o próprio processo de individuação.
O objeto pode ser um instrumento de percursão, banheira, cama, roupa, máscara, balde de gelo, esteira de praia, barco ou simplesmente o motor para a invenção de grandes narrativas, como do rapaz do Rio Grande do Sul que vê todo seu entorno contaminado pela forma do objeto.
Na rua, é a cidade que é transformada pelo objeto.
Na instalação apresentada na Documenta há uma saborosa heterogeneidade de imagens que se unificam no objeto. Imagens normalmente ordinárias que perdem a banalidade porque são impregnadas por um desejo de encontro com o artista, com o objeto.
O que acho que o muitos perdem no trabalho de Basbaum é o humor que aparece na relação que as pessoas tem com o que é produzido pelos participantes, esse mais óbvio, mas perdem também o humor que está no objeto em si e no nome mesmo do projeto: New Basis for Personality. Claro que a idéia é que a arte está sempre dando essas new basis, inventado objetos em que o processo de subjetivação seja uma constante, interminável. Mas, uma vez que esse vira o nome de um longo e complexo projeto, há uma dimensão irônica que se instala.
Se levado muito a sério, o projeto ganha uma dimenssão utópica que perde sua força tanto como obra que efetivamente mobiliza o público e o participante como comentário generoso e irônico às artes em geral.
Brincadeira com NBP em Kassel
Soraia Vilela narra a ação do Grupo Vaca Amarela com o objeto de Basbaum
De maneira geral o humor está ausente da Documenta 12 e essa ausência acaba fazendo que tenhamos dificuldade de encherga-lo mesmo onde ele está presente.
Este post gerou um ensaio publicado em julho na Revista Cinética
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