29 julho 2016
Olimpíada-selfie
Nessa semana uma imagem ordinária e impressionante circulou amplamente.
Durante a corrida da tocha olímpica uma moto atropela uma bicicleta. Quase imediatamente, um homem que acompanhava o desfile pega o seu celular e, enquanto os acidentados ainda caiam, ele se fotograva com o acidente ao fundo. Uma selfie quente. Feita no instante do acontecimento.
Cada época possui seus gestos emblemáticos. São os movimentos repetitivos da era industrial, eternizados em sua dimensão crítica com Chaplin; os punhos cerrados dos Panteras negras, marcando as lutas dos anos 60*, etc.
Essa selfie, feita no calor da hora, parece ser dos gestos mais emblemáticos do mundo contemporâneo.
O homem se registra como parte de um evento. Faz uma imagem que comprova sua presença durante algo extraordinário. O gesto é feito com extrema velocidade, como uma reação motora. Assim como afastamos rapidamente a mão de algo quente, sem termos que pensar, o homem saca a câmera e faz a foto sem pensar.
Produzir uma imagem tornou-se uma reação sensório-motora.
Diante do acidente, a reação instintiva não é socorrer, mas se registrar. Faz-se assim uma dupla relação com o acontecido. Por um lado o homem deseja o evento – registrado na selfie – por outro se distancia dele, não participa. No limite está completamente apartado do que acontece.
Um gesto tão emblemático não está separado do mundo que o torna possível.
No Rio de Janeiro hoje podemos dizer que temos uma olimpíada-selfie. O grande evento acontece e serve de cenário para todos, desde que estejamos apartados do evento. A lógica da separação entre a minha foto e a cidade é levada ao extremo. Uma lógica de separação entre as vidas e o que acontece no entorno. Somos constantemente avisados pelas barreiras e pela polícia: pode fotografar, mostrar como cenário, mas não se envolva.
Faça como o rapaz do vídeo: faça sua selfie, mas deixe os desastres em paz.
Durante a corrida da tocha olímpica uma moto atropela uma bicicleta. Quase imediatamente, um homem que acompanhava o desfile pega o seu celular e, enquanto os acidentados ainda caiam, ele se fotograva com o acidente ao fundo. Uma selfie quente. Feita no instante do acontecimento.
Cada época possui seus gestos emblemáticos. São os movimentos repetitivos da era industrial, eternizados em sua dimensão crítica com Chaplin; os punhos cerrados dos Panteras negras, marcando as lutas dos anos 60*, etc.
Essa selfie, feita no calor da hora, parece ser dos gestos mais emblemáticos do mundo contemporâneo.
O homem se registra como parte de um evento. Faz uma imagem que comprova sua presença durante algo extraordinário. O gesto é feito com extrema velocidade, como uma reação motora. Assim como afastamos rapidamente a mão de algo quente, sem termos que pensar, o homem saca a câmera e faz a foto sem pensar.
Produzir uma imagem tornou-se uma reação sensório-motora.
Diante do acidente, a reação instintiva não é socorrer, mas se registrar. Faz-se assim uma dupla relação com o acontecido. Por um lado o homem deseja o evento – registrado na selfie – por outro se distancia dele, não participa. No limite está completamente apartado do que acontece.
Um gesto tão emblemático não está separado do mundo que o torna possível.
No Rio de Janeiro hoje podemos dizer que temos uma olimpíada-selfie. O grande evento acontece e serve de cenário para todos, desde que estejamos apartados do evento. A lógica da separação entre a minha foto e a cidade é levada ao extremo. Uma lógica de separação entre as vidas e o que acontece no entorno. Somos constantemente avisados pelas barreiras e pela polícia: pode fotografar, mostrar como cenário, mas não se envolva.
Faça como o rapaz do vídeo: faça sua selfie, mas deixe os desastres em paz.
* Tommie Smith e John Carlos, fizeram a saudação durante a cerimônia de premiação nos jogos de 68 e foram banidos dos Jogos.