Reproduzo aqui fragmentos de uma crítica que escrevi sobre Edifício Master na época do lançamento, chamada Personagens a deriva. Esses fragmentos explicam porque gostei tanto de Jogo de Cena.
"O prédio não faz comunidade, não há um espaço que incorpore todas aquelas pequenas células. São partes que não constituem um todo. Enquanto o filme caminha de apartamento em apartamento não há uma acumulação que construa o espaço escolhido. A ausência de um “solo comum” e o isolamento de seus moradores são características do prédio respeitadas pelo filme, é desta forma que os personagens são apresentados. A dúvida quanto ao método se coloca a partir deste respeito à realidade. Em Master este isolamento não está apenas traduzindo uma característica do real, ele acaba por alterar e perturbar a própria presença de quem fala. Desligados de uma ordem maior, que pode ser fílmica, cada personagem é o filme inteiro a cada momento; o que acaba por submeter cada um dos personagens a um excesso de exposição e de responsabilidade em relação ao filme. "
"O excesso de peso dado a cada personagem, a desconexão de cada fala de um solo comum, a extrema responsabilidade que cada fala tem em “segurar” o filme, seja pelo riso ou pela emoção, não colocam também questões éticas? Poderíamos argumentar que em Edifício Master o diretor alcança uma pureza nas falas, elas estão ali, expostas, sem interessar a ordem em que aparecem, sem vínculo com a imagem que sucede ou com a imagem precedente; expostas e desenraizadas. Puros fragmentos de existências. Mas, reside nessa pureza o principal problema do filme. A presença daqueles personagens do filme despidos de pontos de apoio e flutuantes, os leva a uma fragilidade que extrapola o real e expõe vulnerabilidades em relação à suas próprias imagens; efeito talvez de uma mediação insuficiente no deslocamento do privado para o público."
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